terça-feira, 18 de agosto de 2015

Homens nas estradas


Foi então que os grandes proprietários e as companhias inventaram um novo método. Um grande proprietário comprava uma fábrica de frutos em conserva. E quando as peras e os pêssegos amadureciam, ele forçava o preço das frutas para um valor inferior ao custo da produção. Como fabricante de frutas em conserva, ele pagava a si mesmo um preço baixo pelas frutas e, mantendo alto o preço das frutas em conserva, auferia ótimos lucros. Os pequenos proprietários, que não possuíam fábricas de frutas em conserva, perdiam as suas propriedades, que eram arrebanhadas pelos grandes proprietários, pelos bancos e pelas companhias, às quais pertenciam as fábricas de frutas em conserva. Com o tempo, diminuía o número das propriedades. Os pequenos proprietários não tardavam a mudar-se para as cidades, onde esgotavam o seu crédito, os seus amigos, as suas relações. E depois eles também caíam nas estradas.
E as estradas formigavam de homens ávidos de trabalho, prontos para matar pelo trabalho.
As companhias e os bancos trabalhavam para a sua própria ruína, mas não sabiam disso. Os campos estavam prenhes de frutas, mas nas estradas marchavam homens que morriam de fome. Os celeiros estavam repletos, mas as crianças pobres cresciam raquíticas. Em seus peitos intumesciam-se as pústulas escrofulosas. As grandes companhias não sabiam quão o quão tênue era a linha divisória entre a fome e a ira. E o dinheiro que podia ter sido empregado em melhores salários era gasto em bombas de gás, em carabinas, em agentes e espiões, e em listas negras e em exércitos armados. Nas estradas, os homens deslocavam-se como formigas, à procura de trabalho e de comida.
E a ira começou a fermentar.”
John Steinbeck, in As vinhas da ira

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