Minhas ideias são inventadas
“De
repente eu me vi e vi o mundo. E entendi: o mundo é sempre dos
outros. Nunca meu. Sou o pária dos ricos. Os pobres de alma nada
armazenam. A vertigem que se tem quando num súbito
relâmpago-trovoada se vê o clarão do não entender. EU NÃO
ENTENDO! Por medo da loucura, renunciei à verdade. Minhas ideias são
inventadas. Eu não me responsabilizo por elas. O mais engraçado é
que nunca aprendi a viver. Eu não sei nada. Só sei ir vivendo. Como
o meu cachorro. Eu tenho medo do ótimo e do superlativo. Quando
começa a ficar muito bom eu ou desconfio ou dou um passo para trás.
Se eu desse um passo para a frente eu seria enfocada pelo amarelado
de esplendor que quase cega.”
Clarice
Lispector, in Um Sopro de Vida
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