Fotograma do filme Vidas Secas, de Nélson Pereira dos Santos
“[Fabiano]
Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés
duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado,
confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem
cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé,
não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado,
cambaio, torto e feio. Às vezes utilizava nas relações com as
pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos - exclamações,
onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas
e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão,
mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas.”
Graciliano
Ramos, in Vidas Secas
Nenhum comentário:
Postar um comentário