terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Olhos cor de céu (trecho)

“(…) confessou que andava farto das reuniões sempre iguais e sem graça da pretensa POESIA NOVA. a poesia continua sendo a maior picaretagem de esnobes no terreno das Artes, com panelinhas literárias lutando por  prestígio. ainda acho que o maior antro de pedantes inventado até hoje foi o velho grupo da MONTANHA NEGRA. e Creeley continua sendo temido, dentro e fora das universidades – temido e admirado -, mais que qualquer outro poeta. depois temos os acadêmicos, que, como Creeley, escrevem tudo certinho. no fundo, a poesia de maior aceitação hoje em dia ocupa uma redoma de vidro, vistosa e escorregadia, e aquecida pelo sol ali dentro existe uma junção de palavras formando um todo meio metálico e desumano ou um ângulo semiescondido. é uma poesia para milionários e gordos desocupados, e portanto sempre conta com mecenas e sobrevive, pois o segredo consiste em reunir um bando de eleitos e o resto que se foda. mas é uma poesia sem vida, chatérrima, a tal ponto que a sua insipidez é interpretada como possuindo um significado oculto – o significado está oculto, evidentemente, e de maneira tão perfeita que é o mesmo que se não existisse. mas se VOCÊ não consegue descobri-lo, é por falta de alma, sensibilidade e não sei mais o quê, portanto TRATE DE DESCOBRIR SENÃO VAI SE SENTIR HUMILHADO. e se por acaso não descobrir, então, BICO CALADO.
a todas essas, cada 2 ou 3 anos, algum acadêmico, querendo garantir seu lugar na hierarquia universitária (e se você pensa que o Vietnã é um inferno, precisa ver o que acontece entre essas chamadas sumidades em matéria de guerras de intriga e poder dentro de seus próprios cubículos), apresenta a mesma velha antologia de poemas sintéticos e sem culhões com o rótulo de A NOVA POESIA ou A NOVÍSSIMA POESIA, que sempre vem a dar no mesmo baralho de cartas marcadas.”
Charles Bukowski, in Fabulário geral do delírio cotidiano: ereções, ejaculações e exibicionismo: parte II

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