"Ontem eu custei um pouco pra reconhecer o prédio. Foi necessário que
a gente localizasse uma coluna, que está meio disfarçada, no meio de paredes.
Só que quando nós achamos essa coluna, que ficava junto às salas de tortura, eu
reconheci o prédio. Junto a essa coluna ficava um banco encostado. Como eram
duas as salas de tortura, e nós éramos três, eles colocavam um em cada sala,
pra tomar sessões de choque; uma das salas tinha o pau de arara, pra pendurar
no pau de arara, e o outro ficava sentado, era bem do lado, quem sentasse nessa
cadeira ouvia os que estavam sendo torturados. Era uma maneira que eles
utilizavam para que aquele que estivesse esperando se autotorturasse, ficasse
imaginando, ficasse configurando na sua cabeça o que aconteceria com ele. No
momento em que eu fui colocado nesse banco, sempre algemado para trás, pensei:
“Como é que eu posso me livrar dessa situação? Como é que eu posso amenizar
isso?”. Decidi: “Só tem uma forma de fazer isso: dormir”. Então encostei nessa
coluna e disse: “Bom, é sua obrigação revolucionária, obrigação moral de
dormir”. Aí eu dormi. Depois disso, isso me ajudou enormemente, porque eu
aprendi a dormir, nunca depois disso tive um problema de insônia, os poucos
momentos que eu ficava na cela dormia esbragadamente. Quando vinham, jogavam a
comida por baixo e eu empurrava com o pé de volta, e continuava dormindo.
Porque, enquanto eu dormia, podia sonhar. Eu estava na praia, eu estava
continuando a fazer as coisas, estava entrando em quartéis, tomando os quartéis,
levando as armas que deveriam estar em poder do
povo. Aprendi a dormir.”
Antônio Roberto Espinosa, depoimento à Comissão Nacional da
Verdade, em 24 de janeiro de 2014.
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