O Chalé fazia parte da
gente. Me lembro do Bidu, com o seu perfil perpendicular de cegonho sábio, o
longo bico mergulhado não no gargalo do gomil da fábula, não propriamente no
canecão de chope, que era de fato o que estava acontecendo, mas no poço artesiano
de si mesmo.
Me lembro do Reynaldo,
redondo, pacato, tão amável, pacato e redondo que parecia um desses personagens
de romance policial que ninguém desconfia que seja o autor do último crime da
mala.
Me lembro do Cavalcanti,
com a sua cara silenciosa e receptiva de mata-borrão.
Me lembro de mim,
silencioso. Sim, a determinada hora éramos todos silenciosos... essa hora em
que não é preciso dizer nada, nem mesmo o verso inesquecível de Valéry: “Oh mon
bom compagnon de silence!”.
Esse silêncio era apenas
quebrado quando chegava o Athos, o Athos centrífugo e pirotécnico. Mas isto não
perturbava o nosso silêncio, nem o próprio silêncio do Athos...Pois havia um
profundo e misterioso rio de silêncio que corria subterraneamente a todas as
nossas palavras.
Era o rio da poesia?
O rio da harmoniosa
confusão das almas?
Agora
é apenas o rio do tempo que passou.
Mario
Quintana, in Caderno
H
*O Chalé da Praça XV é um dos mais tradicionais Bar
Chopp Restaurantes de Porto Alegre. Localiza-se em pleno centro da cidade, de frente
ao Mercado Público, no meio da praça XV de Novembro.
O primeiro Chalé foi inaugurado em 22 de novembro
de 1885, como um quiosque para venda de sorvetes. Foi reformado em 1909 e 1911,
e novamente em 1971, após um incêndio. Entrando em processo de degradação, o
contrato com o permissionário foi revogado, e em 25 de junho de 1998, o Chalé
foi tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal, mantendo contudo sua função de
restaurante. Constitui uma área de encontros e lazer bastante frequentada no
centro da cidade, graças principalmente à sua localização, às árvores a seu
redor, à sua culinária saborosa e à música ao vivo.
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