De manhã,
na copa. O pai mexe o café na xícara. O filho caçula vem da sala, dispara:
— Pai, o
que é genitália? O homem volta-se:
— Ge… o
quê?
—
Genitália.
— Onde é
que você tirou isso, da sua cabeça?
— Tá no
jornal, pai.
—
Genitália, no jornal? Bem, esse assunto não é comigo agora. Já estou atrasado
pro trabalho. Cadê sua mãe? Rita! Ritinhaaaaa! Onde é que essa mulher se
enfiou? Rita, venha ouvir aqui o que seu filho está aprontando.
Dona Rita
desce esbaforida:
— Algum
problema, Gervásio?
—
Problema nenhum. O garoto está apenas querendo saber o que é genitália.
Explique pra ele. Estou de saída.
—
Genitália? Eu? Isso é conversa de homem pra homem. Vai dizer que você não sabe?
— Saber
eu sei, lógico. Mas há coisas que a gente sabe o que é na teoria, mas fica
difícil de explicar na prática.
— Deixa
de bobagem.
— Tá bom.
Depois, se eu pegar trânsito, quero só ver.
— Pode
deixar, pai. Não precisa ficar discutindo você e a mamãe por causa de uma
palavra. Eu pergunto pra tia da escola.
— Tá
louco? A tia pode pensar mal da gente. Deixa comigo. Presta atenção: genitália
é o mesmo que partes pudendas. Genitália é uma coisa muito antiga. Já existia
no tempo do seu bisavô. No século passado, quando seu bisavô estava vivo, as
pessoas tinham pudor. Elas ocultavam do público certas partes do corpo.
Chegavam até ao exagero. As partes que ficavam mais resguardadas formavam,
exatamente, a genitália. A genitália eram as partes pudendas.
— O
umbigo era genitália, pai?
— Não. Na
verdade, não era. Vou tentar explicar melhor. As pessoas tinham vergonha de
mostrar o corpo. E uma certa parte do corpo era reservada ao extremo. Não
aparecia nem em filme francês. As pessoas chamavam esse território misterioso
de vergonhas. Isso é que é a genitália moderna.
— Bumbum
é genitália, pai?
— Não.
Acho que não estou sendo muito claro. Ritinha, você não quer dar uma mão?
— Não.
Assuma.
— Bom,
vou pras cabeças. Ahnnn. Hummmm. Abaixe as calças. Mais. Até os tornozelos.
Isso. Pronto, tá aí a genitália.
— O
umbigo?
— No
térreo do umbigo. Que é que você vê embaixo do umbiguinho?
— Pô,
pai. Vai dizer que o senhor não sabe o que é isso? É meu bingolim, pai.
— Tá aí.
O bingolim é a genitália do homem.
— Puxa, o
senhor podia ter falado antes.
— Na
vida, às vezes é preciso usar eufemismos. Por exemplo, a genitália da mulher
tem um nome delicado, leve, ágil. Sabe o que estou querendo dizer, não sabe?
Começa com b.
— Barata
da vizinha?
— Não, filho. Borboleta.
Lourenço Diaféria
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