Vou
falar de questões que, independentemente do espaço e do tempo, sempre estiveram
e sempre estarão relacionadas com a educação. Nesta tentativa não posso dizer
que sou uma autoridade, particularmente tão inteligente e bem-intencionado como
os homens que ao longo do tempo trataram dos problemas da educação e que
certamente exprimiram repetidas vezes os seus pontos de vista acerca destas
matérias. Com que base posso eu, um leigo no âmbito da pedagogia, arranjar
coragem para exprimir opiniões sem qualquer fundamento, exceto a minha
experiência pessoal e a minha convicção pessoal? Quando se trata de uma matéria
científica, é fácil uma pessoa sentir-se tentada a ficar calada com base nestas
considerações.
Contudo,
tratando-se de assuntos respeitantes ao ser humano, é diferente. Neste caso, o
conhecimento apenas da verdade não é suficiente; pelo contrário, este
conhecimento deve ser continuamente renovado à custa de um esforço contínuo, sob
pena de se perder. Lembra uma estátua de mármore no deserto que está
continuamente em perigo de ser enterrada pela areia em movimento. As mãos de
serviço têm de estar continuamente a trabalhar para que o mármore continue
indefinidamente a brilhar ao sol. A este grupo de mãos também pertencem as
minhas.
A
escola sempre foi o mais importante meio de transferência da riqueza da
tradição de uma geração para a seguinte. Hoje isto aplica-se ainda mais do que
antigamente, porque, através do desenvolvimento moderno da vida econômica, o
papel da família como entidade portadora da tradição e da educação tem
enfraquecido. A continuidade e a saúde da sociedade humana estão, portanto,
ainda mais dependentes da escola do que anteriormente.
A
influência educacional que é exercida sobre o aluno pela realização de um certo
trabalho pode ser muito diferente, dependendo de o sentimento subjacente a este
trabalho ser dor, paixão egoísta ou desejo de prazer e satisfação. E ninguém
pode afirmar que a administração da escola e a atitude dos professores não têm
influência no modo como moldam as bases psicológicas dos alunos.
Quanto
a mim, a pior coisa parece ser uma escola que trabalhe principalmente com
métodos baseados no medo, na força e na autoridade artificial. Esse tratamento
destrói os bons sentimentos, a sinceridade e a autoconfiança do aluno. Produz o
sujeito submisso.
O
segundo motivo referido, a ambição, ou, em termos mais suaves, o desejo de
reconhecimento e consideração, está firmemente associado à natureza humana. Na
ausência de estímulo mental deste tipo, a cooperação humana seria completamente
impossível; o desejo de aprovação por um colega é certamente uma das forças de
coesão mais poderosas da sociedade. Neste complexo de sentimentos, as forças
construtivas e destrutivas estão muito próximas. O desejo de aprovação e
reconhecimento é um motivo saudável, mas o desejo de ser reconhecido como
melhor, mais forte ou mais inteligente do que outra pessoa ou mais estudioso
conduz facilmente a um estado psicológico excessivamente egoísta, que pode
tornar-se prejudicial para o indivíduo e para a comunidade. Consequentemente, a
escola e o professor devem abster-se de utilizarem o método fácil de incentivar
a ambição individual por forma a levarem os seus alunos a trabalhar. Devemos
abster-nos de incentivar nos jovens a luta pelo sucesso na forma usual como o
principal objetivo de vida. O motivo mais importante para trabalhar na escola e
na vida é o prazer no trabalho, o prazer nos seus resultados e o reconhecimento
do valor do resultado para a comunidade. O importante é desenvolver a
inclinação para a brincadeira própria das crianças e o desejo de reconhecimento
também próprio das crianças e guiar a criança ao longo dos aspectos importantes
para a sociedade. Tal escola exige que o professor seja uma espécie de artista
na sua própria área.
Ainda
não disse nada até agora sobre a escolha dos assuntos a ensinar nem sobre o
método de ensino. Deve predominar o ensino das línguas ou a educação técnica em
ciência?
A isto respondo: na minha opinião, tudo
isso é de importância secundária. Se um jovem desenvolver os músculos e a
preparação física fazendo ginástica e caminhando, estará mais tarde preparado
para qualquer trabalho físico. Isto é igualmente verdade no caso do treino da
mente e do exercício das habilidades mentais e manuais. Assim, o dito não está
muito errado quando define a educação da seguinte forma: “Educação é o que fica
quando esquecemos tudo o que aprendemos na escola!”
Albert
Einstein, in Discurso (1936)
Nenhum comentário:
Postar um comentário