Quanto
pode valer um pássaro
de canto puro e goela solta
que gosta de carícia e se espreguiça
como qualquer amado amante?
O dono levou-o à penhora
por trinta e oito mil
cruzeiros. Diz
que vale o dobro.
Avaliado, não dá mais do que mil e quinhentos
diz o causídico do banco, e chama de brincadeira
esta causa de tão pessoal alcance.
Falando por seu advogado
o dono do pássaro diz
que o assunto é muito sério
e pede mesmo que o pássaro
seja tratado com carinho
pois cantando e recebendo amor
é que se prova valioso.
Neste poema, atentem, a palavra é tão banal,
mas o miolo é pura
poesia.
Difícil é contar como canta o pássaro.
Aí é que seríamos sublimes.
Walmir
Ayala
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