Um
homem vem caminhando por um parque quando de repente se vê com sete anos de
idade. Está com quarenta, quarenta e poucos. De repente dá com ele mesmo
chutando uma bola perto de um banco onde está a sua babá fazendo tricô. Não tem
a menor dúvida que é ele mesmo. Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco
e a babá. Tem uma vaga lembrança daquela cena. Um dia ele estava jogando bola
no parque quando de repente aproximou-se um homem e...
O
homem aproxima-se dele mesmo. Ajoelha-se, põe as mãos nos seus ombros e olha
nos seus olhos. Seus olhos se enchem de lágrimas. Sente uma coisa no peito. Que
coisa é a vida. Que coisa pior ainda é o tempo. Como eu era inocente. Como os
meus olhos eram limpos. O homem tenta dizer alguma coisa, mas não encontra o
que dizer. Apenas abraça a si mesmo, longamente. Depois sai caminhando,
chorando, sem olhar para trás.
O garoto fica olhando para a sua figura
que se afasta. Também se reconheceu. E fica pensando, aborrecido: quando eu
tiver quarenta, quarenta e poucos, como eu vou ser sentimental!
Luís
Fernando Veríssimo, in Comédias para ser ler na escola
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