“Vi
claramente que todas as coisas que se corrompem são boas: não se poderiam
corromper se fossem sumamente boas, nem se poderiam corromper se não fossem
boas. Com efeito, se fossem absolutamente boas, seriam incorruptíveis, e se não
tivessem nenhum bem, nada haveria nelas que se corrompesse. De fato, a
corrupção é nociva, e se não diminuísse o bem, não seria nociva. Portanto, ou a
corrupção nada prejudica - o que não é aceitável - ou todas as coisas que se
corrompem são privadas de algum bem. Isto não admite dúvida. Se, porém, fossem
privadas de todo o bem, deixariam inteiramente de existir. Se existissem e já
não pudessem ser alteradas, seriam melhores porque permaneciam incorruptíveis.
Que maior monstruosidade do que afirmar que as coisas se tornariam melhores com
perder todo o bem?
Por isso, se são privadas de todo o bem,
deixarão totalmente de existir. Logo, enquanto existem são boas. Assim sendo,
todas as coisas que existem são boas e aquele mal que eu procurava não é uma
substância, pois se fosse substância seria um bem. Na verdade, ou seria
substância incorruptível, e então era certamente um grande bem, ou seria
substância corruptível, e nesse caso, se não fosse boa, não se poderia
corromper.”
Santo
Agostinho, in Confissões
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