“A
tua atitude emerge do que costumas dizer: ‘Ainda sou capaz de utilizar quem é
por mim. Mas prefiro, por comodidade, mandar o meu adversário para o outro
campo e abster-me de agir sobre ele, a não ser pela guerra’.
Ao
proceder assim, não fazes mais que endurecer e forjar o teu adversário.
E eu cá digo que amigo e inimigo são
palavras da tua lavra. É certo que especificam qualquer coisa, como definir o
que se passará se vos encontrardes num campo de batalha, mas um homem não se
rege só por uma palavra. Sei de inimigos que estão mais perto de mim ou que me
são mais úteis ou que me respeitam mais do que os amigos. As minhas faculdades
de ação sobre o homem não estão ligadas à sua posição verbal. Direi mesmo que atuo
melhor sobre o meu inimigo do que sobre o amigo: quem caminha na mesma direção
que eu, oferece-me menos oportunidades de encontro e de troca do que aquele que
vem contra mim, disposto a não deixar escapar a mínima palavra ou gestos meus,
que lhe podem sair caros.”
Antoine
de Saint-Exupéry, in Cidadela
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