quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Sendas de Oku (II)

Quando, em 27 de março, me pus à caminho, havia neblina no céu da madrugada. A pálida lua matutina tinha perdido o brilho, mas ainda se podia vislumbrar debilmente o monte Fuji. Em Ueno e Yanaka, os ramos das cerejeiras em flor me despertaram pensamentos tristes ao perguntar-me se algum dia os voltaria a ver. Meus amigos mais queridos tinham todos vindo à noite na casa de Sampu, para poder me acompanhar durante o curto trecho de viagem que eu faria em barco. Quando desembarcamos num lugar chamado Senju, a ideia de começar uma viagem tão longa me encheu de tristeza. De pé sobre o caminho que talvez ia nos separar para sempre nesta vida que é como um sonho, chorei lágrimas de despedida:

primavera
não nos deixe
pássaros choram
lágrimas
no olho do peixe. 
Tradução: Paulo Leminski, in Bashô, a lágrima do peixe

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