Quando, em 27 de março, me pus à caminho, havia
neblina no céu da madrugada. A pálida lua matutina tinha perdido o brilho, mas
ainda se podia vislumbrar debilmente o monte Fuji. Em Ueno e Yanaka, os ramos
das cerejeiras em flor me despertaram pensamentos tristes ao perguntar-me se
algum dia os voltaria a ver. Meus amigos mais queridos tinham todos vindo à
noite na casa de Sampu, para poder me acompanhar durante o curto trecho de
viagem que eu faria em barco. Quando desembarcamos num lugar chamado Senju, a ideia
de começar uma viagem tão longa me encheu de tristeza. De pé sobre o caminho
que talvez ia nos separar para sempre nesta vida que é como um sonho, chorei
lágrimas de despedida:
primavera
não nos deixe
pássaros choram
lágrimas
no olho do peixe.
Tradução:
Paulo Leminski, in Bashô, a lágrima do peixe
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