Imagem: Google
“Uso a palavra
para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou
mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água, pedra, sapo. Entendo
bem o sotaque das águas. Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres
desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das
tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui
aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os
restos, como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de
canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Só uso a
palavra para compor meus silêncios.”
Manoel de Barros
Nenhum comentário:
Postar um comentário