Imagem: Google
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Ruína
“Um monge descabelado me disse no
caminho: “Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma
desconstrução. Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma
coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o
abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser também
de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser
também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma
palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro (O olho do monge estava
perto de ser um canto). Continuou: digamos a palavra AMOR. A palavra amor está
quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para a
palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um
monturo.”
Manoel de Barros, in Poesia completa
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário