“Como
termina um amor? – O quê? Termina? Em suma ninguém – exceto os outros – nunca
sabe disso; uma espécie de inocência mascara o fim dessa coisa concebida,
afirmada, vivida como se fosse eterna. O que quer que se torne objeto amado,
quer ele desapareça ou passe à região da Amizade, de qualquer maneira, eu não o
vejo nem mesmo se dissipar: o amor que termina se afasta para um outro mundo
como uma nave espacial que deixa de piscar: o ser amado ressoava como um
clamor, de repente ei-lo sem brilho (o outro nunca desaparece quando e como se
esperava). Esse fenômeno resulta de uma imposição do discurso amoroso: eu mesmo
(sujeito enamorado) não posso construir até o fim de minha história de amor:
sou o poeta (o recitante apenas do começo); o final dessa história, assim como
a minha própria morte, pertence aos outros; eles que escrevam romance,
narrativa exterior, mítica.”
Roland Barthes, in Fragmentos
de um discurso amoroso
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