“Cadê eu? perguntava-me. E quem respondia
era uma estranha que me dizia fria e categoricamente: tu és tu mesma. Aos
poucos, à medida que deixei de me procurar fiquei distraída e sem intenção
alguma. Eu sou hábil em formar teoria. Eu, que empiricamente vivo. Eu dialogo
comigo mesma: exponho e me pergunto sobre o que foi exposto, eu exponho e
contesto, faço perguntas a uma audiência invisível e esta me anima com as
respostas a prosseguir. Quando eu me olho de fora para dentro eu sou uma casca
de árvore e não a árvore. Eu não sentia prazer. Depois que eu recuperei meu
contato comigo é que me fecundei e o resultado foi o nascimento alvoroçado de
um prazer todo diferente do que chamam prazer.”
Clarice
Lispector, in Um Sopro de Vida
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