Não
aguento mais esses cronistas que escrevem como se seu umbigo fosso centro do
Universo quando todo o mundo sabe que o MEU umbigo é que é o centro do
Universo. Ele é o centro constante das minhas atenções como o centro do meu
corpo e onde ele vai eu vou junto, e vice-versa, certo de que todos se
interessarão pelas nossas venturas e desventuras. O assunto do cronista é
sempre o próprio cronista. Ou seu próprio umbigo e suas circunstâncias.
Digressão:
O umbigo foi sempre um problema para a arte religiosa. Era impossível retratar
Adão e Eva no Paraíso sem seus respectivos e anacrônicos umbigos - prova física
da existência de partos ortodoxos em algum momento da Criação. A solução foi
chamar os primeiros umbigos de marcas do dedo de Deus, o lugar em que o Criador
cutucou Adão e Eva e os instigou a viverem e se multiplicarem, aquela história.
Achei que gostaram de saber que eu e meu
umbigo andamos pela Toscana nas férias, entre Montalcino, Montepulciano, San
Quirico, Siena, Pienza e outras cidades mágicas, e que na praça principal de
Pienza nos aproximamos de uma dupla que tocava chorinho - ela, com cara de
brasileira, mas italiana, na flauta, ele, com cara de europeu, mas brasileiro,
no violão. Já tinha nos impressionado o numero de brasileiros encontrados em
toda parte. Em Pienza, quando a dupla começou a tocar Carinhoso, toda a praça
cantou junto. Ou foi uma alucinação minha, fruto, quem sabe, do
"Brunello" do almoço, ou havia mais brasileiros na Toscana do que
imaginávamos.
Luís
Fernando Veríssimo, in www.estadao.com.br,
de 14/11/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário