“Não
há dúvida de que é inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante o mundo. Resta
saber se não é igualmente inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante nós
próprios. Evidentemente. De fato, ninguém se lamentará perante si próprio, a
fim de se incitar à piedade, o que nada significaria, dado que a piedade é, por
definição, o voluptuoso encontro de dois espíritos. Para quê, então? Não
para obter favores, porque o único favor que um espírito pode fazer a si
próprio é conceder-se indulgência, e toda a gente percebe quanto é prejudicial
que a vontade seja indulgente para com a sua própria e lamentável fraqueza.
Resta a hipótese de o fazermos para
extrair verdades do nosso coração amolecido pela ternura. Mas a experiência
ensina que as verdades surgem apenas em virtude de uma pacata e severa busca,
que surpreende a consciência numa atitude inesperada e a vê, como de um
filme que parasse de repente, estupefata, mas não emocionada.”
Cesare
Pavese, in O Ofício de Viver
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