“Agora pergunto-lhe: o que podemos
esperar do homem enquanto criatura dotada de tão estranhas qualidades? Faça
chover sobre ele todos os tipos de bênçãos terrenas; submerja-o em felicidade
até acima da cabeça, de modo que só pequenas bolhas apareçam na superfície
dessa felicidade, como se em água; dê a ele uma prosperidade econômica tamanha
que nada mais lhe reste para ser feito, exceto dormir, comer pão-de-ló e
preocupar-se com a continuação da história mundial — mesmo assim, por pura
ingratidão, por exclusiva perversidade, ele vai cometer algum ato repulsivo.
Ele até mesmo arriscará perder o seu pão-de-ló e desejará intencionalmente o
mais depravado lodo, o mais antieconômico absurdo, simplesmente a fim de injetar
o seu fantástico e pernicioso elemento no âmago de toda essa racionalidade
positiva.”
Dostoievski, in Notas
do Subterrâneo
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