Escute, meu chapa: um poeta não se faz
com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e
estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem
e explodir com ela. Nada no bolso e nas mãos. Sabendo: perigoso, divino,
maravilhoso.
Poetar é simples, como dois e dois são
quatro sei que a vida vale a pena etc. Difícil é não correr com os versos
debaixo do braço. Difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa. Difícil,
pra quem não é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada,
se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos
sorridentes. E sair por aí, ainda por cima sorridente mestre de cerimônias,
"herdeiro" da poesia dos que levaram a coisa até o fim e continuam
levando, graças a Deus.
E fique sabendo: quem não se
arrisca não pode berrar. Citação: "leve um homem e um boi ao
matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o
boi". - Adeusão.
Torquato Neto, in Geléia
Geral, 3ª feira, 14/09/71.
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