“Durante
o último século, e parte do século anterior, era largamente aceite a existência
de um conflito irreconciliável entre o conhecimento e a fé. Entre as mentes
mais avançadas prevaleceu a opinião de que estava na altura de a fé ser
substituída gradualmente pelo conhecimento; a fé que não assentasse no
conhecimento era superstição e como tal deveria ser reprimida (...)
O
ponto fraco desta concepção é, contudo, o de que aquelas convicções que são
necessárias e determinantes para a nossa conduta e julgamentos não se encontram
unicamente ao longo deste sólido percurso científico. Porque o método
científico apenas pode ensinar-nos como os fatos se relacionam, e são
condicionados, uns com os outros. A aspiração a semelhante conhecimento objetivo
pertence ao que de mais elevado o homem é capaz, e ninguém suspeitará
certamente de que desejo minimizar os resultados e os esforços heroicos do
homem nesta esfera. Porém, é igualmente claro que o conhecimento do que é não
abre diretamente a porta para o que deveria ser. Podemos ter o mais claro e
mais completo conhecimento do que é e, contudo, não ser capazes de deduzir daí
qual deveria ser o objetivo das nossas aspirações humanas. O conhecimento objetivo
fornece-nos instrumentos poderosos para a realização de determinados fins, mas
o objetivo último propriamente e o desejo de o alcançar têm de provir de outra
fonte (...) Aqui enfrentamos, portanto, os limites de uma concepção puramente
racional da nossa existência (...)
Se nos perguntarmos donde deriva a
autoridade de semelhantes fins fundamentais, na medida em que não podem ser
enunciados e justificados meramente através da razão, apenas podemos responder:
existem numa sociedade saudável como tradições poderosas, que influenciam a
conduta e as aspirações e os julgamentos dos indivíduos; existem, isto é, como
algo com vida, sem ser necessário procurar uma justificação para a sua
existência. Nascem, não através da demonstração, mas através da revelação,
através da mediação de personalidades poderosas. Não devemos tentar
justificá-los, mas apenas apreender a sua natureza de uma forma simples e clara”.
Albert
Einstein, in Conferência (1939)
Nenhum comentário:
Postar um comentário