“O efeito de uma estrada campestre não é
o mesmo quando se caminha por ela ou quando a sobrevoamos de avião. De igual
modo, o efeito de um texto não é o mesmo quando ele é lido ou copiado. O
passageiro do avião vê apenas como a estrada abre caminho pela paisagem, como
ela se desenrola de acordo com o padrão do terreno adjacente. Somente aquele
que percorre a estrada a pé se dá conta dos efeitos que ela produz e de como daquela
mesma paisagem, que aos olhos de quem a sobrevoa não passa de um terreno
indiferenciado, afloram distâncias, belvederes, clareiras, perspectivas a cada
nova curva [...]. Apenas o texto copiado produz esse poderoso efeito na alma
daquele que dele se ocupa, ao passo que o mero leitor jamais descobre os novos
aspectos do seu ser profundo que são abertos pelo texto como uma estrada
talhada na sua floresta interior, sempre a fechar-se atrás de si. Pois o leitor
segue os movimentos de sua mente no voo livre do devaneio, ao passo que o
copiador os submete ao seu comando. A prática chinesa de copiar livros era
assim uma incomparável garantia de cultura literária, e a arte de fazer
transcrições, uma chave para os enigmas da China.”
Walter Benjamin, in Rua de Sentido Único
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