Aconteceu
que Luís Freijó se encontrou com Manuelzão de Terto, do Juazeiro-de-Dentro, na
estrada que dava acesso à fazenda Panati.
Esse
Manuelzão, homem espadaúdo, enorme, mas desinteligente, vinha em um reles
cavalinho minguado, cadavérico até. Na lua da cela, trazia um volumoso saco de feijão,
que dificultava ainda mais a andadura do debilitado animal.
Ambos
pararam os seus cavalos e se cumprimentaram:
-
Olá, Manuelzão, tudo bem? E a família como vai?
-
A família vai bem. E a mulher e os meninos?
-
Tão tudo bem também.
Luís,
observando o repuxo de ar sôfrego do cavalinho, e aproveitando o mote e a
ocasião, argumentou:
-
Mas Manuelzão, esse cavalinho não está muito fraco para seu peso e o saco não?
-
É, Luís, mas da cidade para casa é quase duas léguas...
-
Então, homem, ajude o pobre do animal!
-
De que jeito, criatura?
-
Você é um homem forte e pode muito bem levar o saco na cabeça para aliviar essa
carga do cavalo.
Manuelzão
ainda titubeou, quis fazer uma reflexão, mas, num átimo, voltou a ser ele
mesmo, o Manuelzão de sempre. E
concordou com a sugestão:
-
É mesmo, não é, Luís? – colocando o saco na cabeça e se despedindo.
De
vez em quando, Manuelzão se contorcia com esforço para ainda agradecer, com
acenos, ao Luís Freijó. Este, por sua vez, volteava-se, folgazão, a confirmar a
marcha vacilante do infeliz animal.
Lá
se iam distanciando os dois cavaleiros: um, deliciando-se do dever de ajudar ao
próximo; outro, degustando o prazer de ter sido ajudado.
E o sol tórrido por testemunha.
Elilson
José Batista, in Revista Cruviana – 4ª edição
Acesse a revista: www.revistacruviana.blogspot.com
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