“Não admiram tua acuidade? Seja! Mas há
muitas coisas das quais não poderás dizer: ‘Não sou naturalmente dotados
delas’. Mostra, então, essas qualidades que dependem inteiramente de ti:
sinceridade, seriedade, capacidade de trabalho, aversão ao prazer, contentamento
com o seu quinhão e com pouco, benevolência, franqueza, desprezo ao supérfluo,
seriedade de propósitos, magnanimidade. Não vês quantas qualidades podes desde
logo mostrar, para as quais não haverá a desculpa de incapacidade natural e
falta de disposição, e nas quais, todavia, poderás voluntariamente ficar aquém
de tuas possibilidades? Ou és compelido, por deficiência da natureza, a
queixar-te, a ser avarento, a adular, a estar descontente com teu corpo, a
procurar agradar aos homens, a ostentar e a ter o espírito inquieto assim? Não,
pelos deuses; e poderias ter-te livrado há muito dessas coisas. A não ser que
verdadeiramente pudesses ser qualificado de lento de espírito e de retardado na
percepção das coisas. Mas ainda que fosse assim deverias esforçar-te, ao invés
de tirar partido dessa lentidão e de satisfazeres com ela.”
Marco
Aurélio, in Meditações
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