"E essa agora?
Se o que explodiu sobre a
Rússia mostrou alguma coisa
foi que meteoro não tem hora."
O
mais assustador do meteoro que cruzou o céu da Sibéria e explodiu no ar como
várias bombas atômicas é que ele chegou sem ser anunciado. Com todas as
atenções voltadas para o outro asteroide, o que passou de raspão, o asteroide
da Sibéria entrou pela porta dos fundos sem ser detectado. A desculpa é que era
pequeno demais para chamar a atenção e por isso os alarmes não funcionaram.
Nossa ilusão, até agora, era que qualquer detrito espacial que se aproximasse
de nós seria identificado e rotulado, e sua trajetória calculada até o último
milímetro com grande antecedência, o que nos daria tempo para preparar o
espírito - ou usar nossos cartões de crédito até o limite - no caso da colisão
com a Terra ser inevitável. Agora sabemos que qualquer coisa menor do que meio
campo de futebol pode chegar de surpresa e explodir sobre nossas cabeças. Só
nos faltava essa.
Imagino
que tenha gente pensando em como evitar a catástrofe, no caso de um asteroide
gigante vir em nossa direção. O cinema já previu algumas soluções, como a de
mandar um foguete com ogiva nuclear desintegrar o bólido antes que ele nos
atinja. O problema é o asteroide grande se desintegrar em vários asteroides
pequenos, como o que assustou a Sibéria, o que não seria vantagem. Outra dúvida
é como nos comportaríamos se nenhum plano de defesa se mostrasse viável e nosso
destino fosse, fatalmente, o dos dinossauros, que desapareceram depois que o
choque de um asteroide mudou o clima da Terra. Como a perspectiva de uma morte
coletiva, que não distinguisse classes, ricos e pobres, virtuosos e pecadores
afetaria as relações humanas, nos nossos últimos dias de existência? Não tenho
nenhuma vontade de descobrir. Se bem que a situação até daria uma boa crônica.
Corpos
celestes se chocando no espaço lembram o que disse o Einstein sobre a aparente
desorganização do Universo. Ele negou que fosse tudo aleatório e não seguisse
nenhum plano. Deus, afirmou Einstein numa frase que ficou famosa, não joga
dados com o Universo. Tinha razão. Não joga dados, joga bilhar.
Luís Fernando Veríssimo, in www.estadao.com.br, coluna Cultura
Nenhum comentário:
Postar um comentário