Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia
chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo
fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte
ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua. Desta vez
Paulo não só ficou sem sobremesa, como foi proibido de jogar futebol durante
quinze dias. Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra
passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para
transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o
Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há
nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.
Carlos
Drummond de Andrade, in Poesia e prosa
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