“Embora a experiência me tenha ensinado
que se descobrem homens felizes em maior proporção nos desertos, nos mosteiros
e no sacrifício do que entre os sedentários dos oásis férteis ou das ilhas
ditas afortunadas, nem por isso cometi a asneira de concluir que a qualidade do
alimento se opusesse à natureza da felicidade. Acontece simplesmente que, onde
os bens são em maior número, oferecem-se aos homens mais possibilidades de se
enganarem quanto à natureza das suas alegrias: elas, efetivamente, parecem
provir das coisas, quando eles as recebem do sentido que essas coisas assumem
em tal império ou em tal morada ou em tal propriedade. Para já, pode acontecer
que eles, na abastança, se enganem com maior facilidade e façam circular mais
vezes riquezas vãs. Como os homens do deserto ou do mosteiro não possuem nada,
sabem muito bem donde lhes vêm as alegrias e é-lhes assim mais fácil salvarem a
própria fonte do seu fervor.”
Antoine
de Saint-Exupéry, in Cidadela
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