“Uma
certa vivacidade de impressões, mais diretamente dependentes da sensibilidade
física, decresce com a idade. Ao chegar aqui, e sobretudo depois de ter aqui
passado alguns dias, não senti, desta vez, essas vagas de tristeza ou de
entusiasmo que este local me costumava comunicar, e cuja recordação, depois, me
era tão doce.
Deixá-lo-ei,
se calhar, sem a pena que outrora sentia. O meu espírito, por seu turno, tem hoje uma segurança muito maior, uma maior
capacidade de fazer associações e de se exprimir; a inteligência cresceu, mas a
alma perdeu parte da sua elasticidade e irritabilidade. E porque é que, ao fim
e ao cabo, não partilhará o homem o destino comum de todos os outros seres?
Ao pegarmos num fruto delicioso, será
justo pretender respirar ao mesmo tempo o perfume da flor? Foi preciso passar
pela sutil delicadeza da nossa sensibilidade juvenil para chegar a esta
segurança e maturidade do espírito. Talvez os grandes homens - é o que eu penso
- sejam aqueles que, numa idade em que a inteligência possui já a sua plena
força, ainda conservam parte dessa impetuosidade das impressões, que é própria
da juventude.”
Eugène
Delacroix, in Diário
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