Mestre Vitalino
Não
passava de um modesto caçador de preá. Era Bentinho Alves, dos Alves de Arió do
Pará. Em dia de semana gastava os olhos no pilulador da Farmácia Brito. Em
tempo de feriado consumia as vistas no rasto dos preás. Até que resolveu caçar
bicho de maior escama:
-
Comigo agora é na onça! Ou mais que onça! Na tal da pantera negra.
Foi
quando deu em Arió do Pará um doutor de erva aparelhado para fazer os maiores
serviços de mato adentro. Mediante uns trocados, o curandeiro botava macaco
para desgostar de banana e tamanduá correr com perna de coelho. Bentinho,
exagerado, mandou que o especial em erva preparasse simpatia capaz de fazer
morrer na pólvora de sua espingarda as caças mais grossas, coisa assim no
montante de uma capivara de banhado ou uma onça das mais pintadas. E no ardume
do entusiasmo:
-
Ou mais! É aparecer e morrer.
O
curandeiro tirou uma baforada do covil dos peitos e mandou que Bentinho
largasse no rodapé do arvoredo mais galhoso uma figa de guiné de sociedade com
fumo de rolo e pó de unha de tatu. Bentinho não fez outra coisa. E montado
nessa simpatia, uma quinzena adiante, o aprendiz de botica entrava no mato. E
bem não tinha dado meia dúzia de passos já o trabalho do curandeiro fazia
efeito na forma de uma onçona de três metros de barriga por quatro de raiva.
Bentinho, diante daquela montanha de carne e pêlo, largou a espingarda para
subir de lagartixa pelo primeiro pé de pau que encontrou na alça de mira. E
enquanto subia Bentinho falava para Bentinho:
-
Curandeiro exagerado! Isso não é onça para aprendiz de farmácia. Isso é onça
para doutor formado. Ou mais!
E voltou para sua
caça miúda de preá.
José
Cândido de Carvalho, in Os mágicos municipais
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