terça-feira, 25 de setembro de 2012

Leiga seria a arte

“Leiga seria a arte se, ditando o recato aos limites da capacidade, não procurasse dissimular os ímpetos do afeto. Tão acreditada está esta parte da subtileza, que sobre ela ergueram Tibério (Imperador de Roma) e Luís (Luís XI de França, cognome 'O Prudente') toda a sua máquina e política.Se todo o excesso em segredo o é também em torrente, sacramentar uma vontade será soberania. São os achaques da vontade desmaios da reputação e, logo que se declaram, esta vulgarmente morre.
O primeiro esforço basta para violentá-los, o segundo para dissimulá-los. Se aquele tem mais de valoroso, este tem mais de astuto. Quem a eles se rende, baixa de homem a bruto; quem os repudia conserva, pelo menos nas aparências, o crédito.
Acusa torrentosa eminência o penetrar-se toda a vontade alheia, e conclui superioridade saber selar-se a própria. Descobrir-se um afeto a um varão é o mesmo que abrir um postigo na fortaleza da torrente, pois é por ali que maquinam politicamente os astutos, e na maior parte das vezes o assaltam com sucesso. Sabidos os afetos, sabem-se as entradas e as saídas da vontade, tornando-se senhores dela a todas as horas.”
Baltasar Gracián y Morales, in O Herói

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