“Tales de Mileto foi o primeiro
pensador ao qual se atribuiu o qualificativo filósofo, e aos nossos olhos isso pode querer significar uma “especialidade”
entre as inúmeras de que os homens são capazes. Se estivéssemos no entanto
estudando a história da astronomia, verificaríamos que Tales é também o
primeiro “astrônomo” do Ocidente (por ter pela primeira vez previsto um eclipse
solar). Além disso, nossa geometria secundarista ainda faz referência ao famoso
teorema atribuído a Tales, o “geômetra”. Não se trata simplesmente de um mesmo
homem que ocasionalmente se interessa por “especializações” diversas; são essas
“especializações diversas”, esses “campos diferentes do conhecimento” que eram
ainda a mesma coisa: ao exercer a astronomia, Tales fazia também geometria, era também
filósofo, e isso ao mesmo tempo. Os
ideais de verdade do pensamento moderno, ao buscarem sempre maior precisão, ao
particularizarem, ao distinguirem e diferenciarem os ramos do saber,
afastaram-nos dessa experiência universalizante dos gregos, admirada pelo
Renascimento e que o pensamento contemporâneo procura historicamente
reconstituir”.
Lygia Araujo Watanabe, in Aspectos
da História da Filosofia
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