“Sentia-me à vontade em tudo, isso é
verdade, mas ao mesmo tempo nada me satisfazia. Cada alegria fazia-me desejar
outra. Ia de festa em festa. Acontecia-me dançar noites a fio, cada vez mais
louco com os seres e com a vida. Por vezes, já bastante tarde, nessas noites em
que a dança, o álcool leve, o meu desenfreamento, o violento abandono de cada
qual, me lançavam para um arroubo ao mesmo tempo lasso e pleno, parecia-me, no
extremo da fadiga e no lapso de um segundo, compreender, enfim, o segredo dos
seres e do mundo. Mas a fadiga desaparecia no dia seguinte e, com ela, o
segredo; e eu atirava-me outra vez”.
Albert
Camus, in A Queda
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