“As
qualidades que eu admirava no meu pai eram a sua brandura, a sua firme recusa
em se desviar de qualquer decisão a que tinha chegado, a sua completa
indiferença às falsas honrarias; o seu esforço, a sua perseverança e vontade de
ouvir atentamente qualquer projeto para o bem comum; a sua invariável
insistência em que as recompensas devem depender do mérito; o seu hábil sentido
de oportunidade para puxar ou soltar as rédeas; e os esforços que fazia para
suprimir a pederastia. Ele tinha consciência de que a vida social tem as suas
exigências: os seus amigos não tinham qualquer obrigação de se sentarem à sua
mesa ou de o acompanhar nas suas viagens oficiais, e quando eles eram disso
impedidos por outros compromissos, isso não lhe fazia qualquer diferença. Todas
as questões que lhe eram submetidas em conselho eram examinadas meticulosa e pacientemente;
nunca ficava satisfeito em despachá-las apenas com uma primeira impressão
apressada. As suas amizades eram duradouras; não eram caprichosas nem
extravagantes. Estava sempre à altura das circunstâncias; alegre, mas com uma
visão de alcance suficiente para mandar discretamente cumprir os seus planos
até ao mais pequeno pormenor.
Estava
sempre atento às necessidades do império, conservando prudentemente os seus
recursos e suportando as críticas daí resultantes. Não era supersticioso frente
aos deuses; e frente aos seus concidadãos nunca se rebaixava para alcançar
popularidade nem namorava as massas, mas prosseguia o seu caminho calma e
firmemente, desprezando tudo o que lhe soasse a ostentação ou moda. Aceitava
sem complacência ou compunção os bens materiais que a sorte pusera à sua
disposição; quando estavam à mão aproveitava-os, e quando não estavam, não
sentia qualquer mágoa.
Não
lhe podiam ser apontados quaisquer vestígios dos sofismas dos casuístas, do
atrevimento do adulador, ou do escrúpulo exagerado do pedante; todos os homens
lhe reconheciam uma personalidade madura e acabada que era insensível à lisonja
e perfeitamente capaz de se orientar a si próprio e aos outros. Além disso,
tinha grande respeito por todos os filósofos genuínos; e embora abstendo-se de
criticar os outros, preferia passar sem a sua orientação. Na convivência era
afável e atencioso, mas sem exageros. Os cuidados que dispensava ao corpo eram
razoáveis; não havia nele qualquer ansiosa preocupação de prolongar a existência,
ou em embelezar a sua aparência, contudo estava muito longe de ser descuidado
em relação a esta, e de fato cuidava tão bem de si próprio que raramente
precisava de cuidados médicos ou de medicamentos. Não se notava nele o mais
pequeno vestígio de inveja no seu pronto reconhecimento de qualidades notáveis,
quer em discursos públicos, quer nos domínios da lei, da ética ou qualquer
outro, e esforçava-se por dar a cada pessoa a oportunidade de conquistar
reputação no seu próprio campo.
Embora
todas as suas ações fossem guiadas pelo respeito pelo precedente constitucional,
nunca abandonava o seu caminho para buscar o reconhecimento público disso.
Também não gostava da agitação e da mudança e tinha uma arreigada preferência
sempre pelos mesmos lugares e sempre pelas mesmas atividades. Depois de uma das
suas enxaquecas, voltava logo aos seus deveres sem perda de tempo, com novo
vigor e completo domínio das suas capacidades. Os seus documentos secretos e
confidenciais não eram muitos, e os raros temas neles tratados referiam-se
exclusivamente a assuntos do estado.
Revelava
bom senso e comedimento na exibição de espetáculos, na construção de edifícios
públicos, na distribuição de subsídios, etc., tendo sempre mais em vista a
necessidade dessas medidas do que o aplauso que elas provocavam. Os seus banhos
não eram a horas inconvenientes; não tinha a obsessão de construir; não era
nada esquisito em relação à sua alimentação, nem ao corte e às cores das suas
vestes, nem à apresentação daqueles que o rodeavam. As suas roupas eram-lhe
enviadas da sua casa de campo em Lorium, e a maior parte das sua coisas eram de
Lanuvium. A famosa maneira como ele tratou um inspetor em Tusculum era típica
do seu comportamento, pois a falta de cortesia, bem como a brusquidão ou a
jactância, eram estranhas à sua natureza; nunca ficava encalorado, como diz o
povo, ao ponto de transpirar; era seu hábito analisar e pesar todos os
incidentes, devagar, calma, metódica, decisiva e consistentemente. Aquilo que
se diz de Sócrates, não é menos aplicável a ele: que tinha a capacidade de se
permitir ou negar a si próprio indulgências que a maioria das pessoas são
incapazes de recusar por fraqueza, ou de apreciar, pelos seus excessos. Ser
assim tão forte para, à sua vontade, se conter ou ceder revela uma alma perfeita e indômita como Máximo também demonstrou no seu leito de doente.”
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