sexta-feira, 27 de abril de 2012

Oficina irritada

Eu quero compor um soneto duro 
como poeta algum ousara escrever. 
Eu quero pintar um soneto escuro, 
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro, 
não desperte em ninguém nenhum prazer
E que, no seu maligno ar imaturo, 
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro 
há de pungir, há de fazer sofrer, 
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro, 
cão mijando no caos, enquanto Arcturo, 
claro enigma se deixa surpreender.

Carlos Drummond de Andrade, in Poesia e prosa

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