“João
Soares estava com a razão. Eleição custa dinheiro. Um cabo eleitoral prático
assim como o Pé-de-Meia garantia o serviço, mas cobrava vinte mil-réis com
cabeça. E as despesas não ficavam nisso; poucos são os registrados, e cumpre
fazer o registro; se o eleitor nasceu ou casou fora do município, tem-se de
mandar buscar a certidão por um positivo de confiança. E lá se vai um
dinheirão! Depois, a entrega dos títulos. Boia e pagode. E condução para muita
gente – roceiro, quando viaja, carrega a família toda. A fila em frente do juiz
se reveza, e isso custa mais um ajutório ao Pé-de-Meia, cuja presença o eleitor
exige para assisti-lo na hora de passar o recibo. Lá está ele, botando coragem
no povo: ‘- Não se afobe, capriche. Você está implicando à toa com o efe – a letra
é facinha. Se não decorou direito a voltinha, deixe: o juiz não repara, não...’”
Mário Palmério
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