Mercados, butiques.
Viajo
Num ônibus Estrada de Ferro – Leblon.
Volto do trabalho, a noite em meio,
Fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
Relógio de lilases, concretismo,
Neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
Que a vida
Eu a compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
A poesia agora responde a inquérito policial militar.
Digo adeus à ilusão
Mas não ao mundo. Mas não à vida,
Meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
Da punição injusta,
Da humilhação, da tortura,
Do terror,
Retiramos algo e com ele construímos um artefato,
Um poema,
Uma bandeira.
Ferreira Gullar, in Toda
poesia
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