quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Os melhores filmes brasileiros de 2011, por Ricardo Kalil

Cena de “Os Residentes”, de Tiago Mata Machado

Depois da lista de melhores filmes internacionais de 2011, aí vai a dos nacionais.
Primeira observação: foi um ano forte, muito forte, do cinema nacional. Se em anos passados foi necessário forçar um pouco a barra para chegar a um top 10, desta vez faltou lugar para todo mundo.
Segunda observação: diferentemente do cinema internacional, o ano do cinema nacional foi dos jovens cineastas. Com exceção de dois filmes da lista, todos os filmes foram feitos por cineastas que ou estão estreando em longa ou estão no segundo longa. Só o fato de todos terem chegado concomitantemente ao circuito comercial talvez seja a melhor notícia para o cinema brasileiro em muito tempo.
Terceira observação: este foi o ano da ficção. Em anos anteriores, os documentários representavam uma fatia sempre considerável, às vezes majoritária, nesta lista. Agora são apenas dois dos dez.
Quarta (e de novo óbvia) observação: não deu para ver tudo. Ficções e documentários importantes, como respectivamente “A Alegria” e “Diários de uma Busca”, foram perdidos na correria, mas ainda serão vistos em algum momento.
Quinta (e mais longa) observação, repleta de “suboservações”: para não dizer que tudo é festa, e odeio bater anualmente nesse mesma tecla, o cinema brasileiro está muito longe de superar os problemas de distribuição e divulgação. Como saiu publicado recentemente, um terço dos filmes nacionais não chega a 1 mil espectadores. É o caso de alguns filmes da relação abaixo, incluindo o primeiro da lista, “Os Residentes”, de Tiago Mata Machado. Longe de ser um especialista em política cinematográfica, eu vou me arriscar a apontar alguns dedos. 1) Instituições governamentais e entidades de classe precisam urgentemente priorizar políticas de distribuição, que vão da construção de cinemas populares, com preferência para exibição de filmes nacionais, até apoio a projetos de distribuição alternativas – como, para citar apenas um exemplo, a Rede Brazucah!, que exibe filmes brasileiros em universidades. Se for preciso produzir menos para distribuir melhor – ou seja, realocar dinheiro de uma área para outra –, que seja. 2) A grande imprensa deveria abrir espaço para filmes brasileiros no momento em que eles mais precisam; ou seja, quando chegam ao circuito comercial. “Os Residentes” ganhou resenhas nos grandes jornais quando foi exibido no Festival de Brasília, depois na Mostra de Tiradentes. Quando entrou em cartaz, e posso estar sendo injusto, não me lembro de ter visto nenhuma crítica na grande imprensa. Em festivais, os filmes se viram: vão ter público, imprensa local, tapinhas nas costas, sinceros ou não. No circuito, eles em geral morrem. 3) Cadê os cinéfilos, mano? Vou pegar de novo o exemplo de “Os Residentes”, mas podia ser quase qualquer um da lista. O filme provoca polêmica em Brasília, ganha Tiradentes, é selecionado para Veneza, aí chega em cartaz e nem mil pessoas tiram a bunda do sofá para assisti-lo. Nem que seja para dizer que o diretor é uma farsa ou que eu estou viajando para colocá-lo no topo da lista. Não é possível que não haja mil pessoas em São Paulo e Rio que gostem de cinema, tenham ouvido falar desses filmes e ficado minimamente intrigado com suas propostas. Não é só culpa do governo e da mídia, não. Não se pergunte o que a América pode fazer por você, mas o que você pode fazer pela América.
E, agora, depois desse infindável prólogo, a lista.
“Os Residentes”, de Tiago Mata Machado
“Riscado”, de Gustavo Pizzi
“As Canções”, de Eduardo Coutinho
“Estrada para Ythaca”, de Irmãos Pretti & Primos Parente
“O Palhaço”, de Selton Mello
“Os Monstros”, de Irmãos Pretti & Primos Parente
“Além da Estrada”, de Charly Braun
“Transeunte”, de Eryk Rocha
“Corpos Celestes”, de Marcos Jorge e Fernando Severo
“Família Braz – Dois Tempos”, de Dorrit Harazim e Arthur Fontes

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