Tito Sclavo conseguiu ver e transcrever alguns boletins oficiais do cárcere chamado Libertad, nos anos da ditadura militar uruguaia. São atas de castigo: condenam-se ao Calabouço os presos que tenham cometido o delito de desenhar pássaros, ou casais, ou mulheres grávidas, ou que tenham sido surpreendidos usando uma toalha estampada de flores. Um preso, cuja cabeça estava, como todas, raspada a zero, foi castigado por entrar despenteado no refeitório. Outro, por passar a cabeça por baixo da porta, embora debaixo da porta houvesse um milímetro de luz. Houve Calabouço para um preso que pretendeu familiarizar-se com um cão de guerra, e para outro que insultou um cão integrante das Forças Armadas. Outro foi castigado porque latiu como um cão sem razão justificada.
Eduardo Galeano, in O livro dos abraços
Nenhum comentário:
Postar um comentário