terça-feira, 31 de maio de 2011

Dia Mundial sem tabaco

Estudantes nepaleses fazem campanha contra o cigarro. No dia 31 de maio é comemorado o Dia Mundial sem Tabaco. A data lembra a necessidade de combater o tabagismo, hábito que leva a cerca de 5 milhões de mortes anuais no planeta, segundo a OMS.

Foto Surreal

Foto do sueco Erik Johansson

O talismã do escritor

Aquilo a que a terminologia romântica chama gênio ou inspiração não é mais do que encontrar empiricamente o caminho, seguir o próprio olfato.
Italo Calvino
É conhecido o episódio em que o jovem e autor estreante Italo Calvino abafou por anos em sua mente a voz que suplicava para ele escrever uma história maluca passada na Idade Média na qual um visconde era partido ao meio por uma bala de canhão e assim mesmo partido cada metade começava a vagar pelo mundo, cada uma com uma personalidade, uma parte boa, a outra má, e as duas insuportáveis. Calvino preferiu, ao invés de escrever essa história, ceder aos apelos de seu tempo e dos intelectuais da época, que saudavam e abriam generosamente espaço em periódicos e jornais a livros de teor político, de temática socialista. No meio literário, os romances chamados de neorrealistas, com temas e enredos voltados para a realidade social eram aplaudidos e exaltados, enquanto os que se desviavam de alguma forma desse caminho recebiam olhares tortos, críticas severas, ou, ainda pior, o silêncio. Eram vistos como ultrapassados, e, seus autores, alienados. Calvino publicou o livro com a temática exaltada pelos intelectuais contemporâneos esperando boa receptividade e elogios, mas a crítica positiva não foi unânime. No meio político, elogiaram o tema. Nas resenhas literárias, o consideraram importante para o debate das questões da época. No entanto, ninguém foi capaz de dizer que havia gostado do livro. Calvino começou inclusive a desconfiar de que ninguém tinha passado da terceira página. Foi um amigo, também escritor, distante da política e da academia, que veio em seu socorro. Após uma conversa angustiada, confessou a Calvino que achou seu livro monocórdio e chato. Apesar da temática, era pouco consistente e não parecia dizer muito ao que veio. Ao voltar para casa, Calvino, arrasado, escutou novamente a voz que invadia sua mente contando uma história de outros tempos, com personagens e situações que extrapolavam a realidade e a verossimilhança. Vencido, deixou-se enfim levar por essa voz, que, percebeu depois, não lhe era desconhecida, muito menos externa ao seu universo pessoal. Não lhe vinha do lado de fora, como as opiniões e os ditames dos intelectuais, políticos e acadêmicos de literatura da sua época. Vinha lá de dentro, de um lugar impreciso, mas firme em sua inquietude e maneira de mostrar e visualizar o mundo.
Quando parou de resistir a essa voz, Calvino foi tomado por um incessante fluxo criativo que resultou no romance O visconde partido ao meio, livro que lhe trouxe imensa satisfação pessoal. Durante o processo da escrita, ficou inteiramente entregue à voz interior e só a ela. Descobriu assim o seu caminho na literatura, o seu modo peculiar de ver o mundo e de dizê-lo. “Compreendi que a tarefa do escritor reside apenas em fazer o que sabe fazer: no caso do narrador, isso reside no narrar, no representar, no inventar.”
Durante toda a sua carreira, Calvino se lembrou desse fato do início de sua vida literária como um precioso talismã. Graças a essa lembrança nunca perdeu a confiança em sua intuição criativa, que muitas vezes lhe levava a escrever histórias que iam na direção totalmente oposta à eleita tanto pelo mercado quanto pela crítica literária. “Há muitos anos parei de estabelecer preceitos sobre como se deveria escrever: de que adianta pregar certo tipo de literatura ou outro, se depois as coisas que se tem vontade de escrever são talvez totalmente diferentes? Levei algum tempo para entender que as intenções e opiniões não contam, conta o que alguém realiza”, disse o escritor anos depois, em uma entrevista, quando, apesar de ter seguido um caminho independente dos apelos e da crítica, já havia se tornado um escritor consagrado no mundo todo.
De posse do seu talismã, Calvino ainda levou dez anos para se considerar, de fato, um escritor. “Necessitava de tempo para consolidar dentro de mim a voz que me lançava ao universo fantástico, enquanto, simultaneamente, era impelido cada vez mais a lidar com os aspectos da narrativa. Me sentia atraído, não pela ilusão criada pela arte literária, mas pelos artifícios criadores dessa ilusão.” Enquanto a maior parte dos escritores de seu tempo buscava escrever uma representação da realidade, Calvino se direcionava para o caminho oposto. Não queria passar a impressão de que, ao ler seus livros, lia-se a vida. Queria que se fosse lida a vida escrita. Queria a consciência de que se lia um livro, uma história de ficção erguida pelas palavras e pelo jogo literário. “Calvino jamais substituiu a literatura pela vida”, disse Berardinelli, autor dos principais textos críticos sobre Calvino. “Nele a literatura permanece lucidamente um espaço bem-delimitado, bidimensional, no qual pela arte podem ser criados efeitos perceptivos ilusionistas, terceiras e quartas dimensões e jogos de espelho, mas onde permanece inconcebível que se sofra, que sejamos condenados, tornemo-nos imbecis, loucos ou culpados.”
Calvino não queria que o leitor esquecesse que estava envolvido em um processo de leitura, do mesmo modo em que mantinha a auto-suficiência do universo criado. “Em momento nenhum negaria a literatura como um espaço de experiências. Mas, para mim, os conceitos de mundo escrito e mundo não-escrito são mais abrangentes do que a oposição geralmente estabelecida entre a realidade e a ficção.” O texto escrito, ou o mundo escrito, para Calvino, é um universo próprio, distinto, assim como o mundo não-escrito. Ambos se relacionam, mas não se espelham. Se fosse para estabelecer uma diferença entre eles não seria a questão da verossimilhança, mas a da forma. “Você sabe melhor do que ninguém, sábio Kublai, que jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve. Contudo, existe uma ligação entre eles”, está dito em As cidades invisíveis. Ligação que promove movimento contínuo entre um mundo e outro, e não a busca comparativa de referências e identificações. Consciência em relação próprio trabalho criativo adquirida por meio de uma escuta permanente à sua voz interior, o que levou o escritor a um caminho singular e original na literatura. Visão exposta em um dos seus inúmeros ensaios literários, nos quais pensava intensamente sobre o ato de escrever: “A palavra associa o traço visível à coisa invisível, à coisa ausente, à coisa desejada ou temida, como uma frágil passarela improvisada sobre o abismo”.

Cláudia Lage, in Rascunho, Gazeta do Povo, de Londrina
        “É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Num Estado, isto é, numa sociedade onde há leis, a liberdade não pode consistir senão em poder fazer o que se deve querer e em não ser constrangido a fazer o que não se deve desejar.
          Deve-se ter sempre em mente o que é independência e o que é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros teriam também tal poder”.

Montesquieu, in Do espírito das leis

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve.
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que ele não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa
“Um homem é rico na proporção do número de coisas das quais pode prescindir”.
Henry David Thoreau

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Até - Seu Zé



SeuZé é uma banda de Natal - RN, que mistura rock com ritmos do nordeste brasileiro. Trata da realidade nordestina com boas pitadas de Música Popular Brasileira e rock.
A banda tem como estilo a mistura do rock tradicional e do blues, com ritmos regionais (baião, xote) e com o samba. É por fazer a fusão de guitarras distorcidas com esses ritmos que a crítica em geral, assim como as pessoas que têm acompanhado os shows, consideram o grupo como extremamente original.
Considerado como uma das revelações da música potiguar no ano de 2003, o SeuZé participou no dia 7 de novembro da final do V Festival Pop Rock Tropical, realizado pela rádio 103 FM, sagrando-se campeão pela escolha do voto popular e do júri. A banda foi eleita vencedora entre 52 inscritas, e como prêmio ganhou a gravação do seu primeiro CD que havia começou a ser registrado, lançado no primeiro semestre de 2005.
Em abril de 2004 o quarteto recebeu mais um reconhecimento, sendo indicado ao Prêmio Hangar (evento que elege os maiores destaques da música norte-riograndense) nas categorias "melhor compositor" (para o vocalista e baixista Lipe Tavares) e "revelação musical" de 2003.
Em 2005 a banda foi selecionada para participar no Festival MADA (Música Alimento da Alma), um dos maiores festivais de música independente do Brasil, em que lançou seu primeiro CD Festival do Desconcerto pelo selo Mudernage, através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão e patrocinado pela empresa de vigilância potiguar Emvipol. O show da banda rendeu vários comentários na mídia especializada e convites para shows fora do RN.
Em 2006, a banda concorreu aos prêmios da Revista London Burning - como melhor álbum de MPB - e ao prêmio nacional do conceituado Laboratório Pop, como revelação nacional de 2005 . Já no segundo semestre, ganhou 4 categorias do I Prêmio Rock Potiguar, de Melhor banda do RN em 2005Melhor álbum lançado em 2005Melhor site de banda de 2005, e Melhor letrista/compositor de 2005 para Lipe Tavares.

Discografia:

SeuZé (Demo). 2003. Independente.
Realidade Não Tão Paralela (EP). 2004. DoSol Records
Festival do Desconcerto (CD). 2005. Mudernage Records.
SeuZé - A Comédia Humana (CD). 2010. Afago

STF manda prender Antonio Conselheiro

STF manda prender Antonio Conselheiro
Vedetes do Teatro de Revista aguardam julgamento na sala de espera do STF desde 1947
TERRA DO NUNCA - Depois de decretar a prisão de Pimenta Neves com onze anos de atraso, os ministros do Supremo Tribunal Federal estenderam o efeito da decisão para casos que trancavam a pauta da corte há algum tempo.
"Com o intuito, mais uma vez, de acompanhar os anseios da sociedade brasileira, decidimos que a decisão sobre Pimenta Neves tem efeito cascata, e emitimos um mandado de prisão para Antonio Conselheiro", explicou Gilmar Mendes. "Mancomunado com Cesare Battisti, o Conselheiro atacou a República em Canudos".
Pouco antes de ser preso, Pimenta Neves se articulou com o PMDB para conseguir uma emenda propondo sua anistia. "Se o pessoal que desmatou hectares e hectares têm direito, eu também tenho", argumentou ele numa conversa com Michel Temer. Redigido pela consultoria Projeto, de Antonio Palocci, o decreto de anistia irá ao plenário da Câmara hoje mesmo, onde conta com o apoio entusiasmado de toda a base aliada.
No final da tarde, Cezar Peluso convocou um julgamento de emergência "para dar cabo ao casos de Lampião, Calabar e Zumbi".
Postado originalmente in The I-Piauí Herald

Noite de Natal

É Noite de Natal... O mundo se alumia.
Sentamo-nos tranquilos em redor da mesa.
Alguém sugere um brinde, com delicadeza.
As taças se entrechocam em desarmonia.

Remoto um galo tece uma oração baldia,
e aqui nos irmanamos sob a luz acesa.
Há vírgulas de pranto, olhos de incerteza,
perante esta cadeira agora assim vazia.

Já quase meia-noite, o vinho tinto exala
um cheiro de saudade que percorre a sala
e vem se amotinar no coração da gente.

É Noite de Natal, é meia-noite e meia,
e todos contemplamos, junto à Santa Ceia,
a foto na parede de meu pai ausente.

Marcos Ferreira, poeta mossoroense
“Cidade é um lugar onde as pessoas ficam sozinhas juntas”.
Hebert Prochnow

Arte: surpreender, comover


Fotos de Gabriel Orozco
“Quando um homem de pensamento alcança a idade viril e atinge uma consciência lúcida, ele se sente involuntariamente como que apanhado numa armadilha, da qual não há saída”.
Anton Tchekhov, In Enfermaria nº 06

domingo, 29 de maio de 2011

Visita à casa paterna



Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.

Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos, - olhou-me, grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.

Era esta sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade,
minhas irmãs e minha mãe... O pranto

Jorrou-me em ondas... Resistir quem há de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.

Rio - 1876.

Luís Guimarães Júnior
“O coração é uma casa com dois quartos de dormir. Num deles mora o sofrimento, no outro a alegria. É preciso não rir muito alto, sob pena de acordar o ocupante do quarto vizinho”.
Gustav Janouch

É proibido proibir: Marcha da Liberdade

Vários manifestantes e jornalistas foram espancados e consumiram gás lacrimogêneo ou de pimenta, porque estavam no ato pela liberdade de expressão, que inicialmente seria a “Marcha da Maconha”, permitida há três anos por juízes de São Paulo, mas vetada pelo Tribunal de Justiça.
Mas que fique claro que desnecessário pedir ao Judiciário para se manifestar, pois nenhum dos poderes de Estado têm a função de censurar o conteúdo das manifestações sociais, como estabelecido em nossa Constituição, que fixou diversas garantias e direitos, dentre eles a liberdade de reunião, instrumento para concretizar a liberdade de expressão, manifestação, incluindo o direito de protesto. A normativa internacional, regional e nacional segue a mesma direção e constou inclusive das observações do Relator Especial sobre a Liberdade de Expressão da CIDH, referindo-se às proibições a atinentes à “Marcha da Maconha” que “marchas de cidadãos pacíficas em áreas públicas são demonstrações protegidas pelo direito à liberdade de expressão”.
O Estado Democrático de Direito pressupõe o debate aberto e público. Não é possível criar uma sociedade livre, justa e solidária sem o patamar da liberdade de expressão e de reunião, sustentáculos da democracia.
Impedir o exercício destes direitos significa retirar dos cidadãos o controle sobre os assuntos públicos.
O direito de reunião, de protestar, é de primeira grandeza, a ser resguardado pelo Poder Judiciário, na medida que este direito é o único que pode fazer valer os demais direitos fundamentais, especialmente destinados aos mais vulneráveis e à diversidade.
Como defende o constitucionalista argentino, Roberto Gargarella, o direito de protesto é o primeiro direito, porque é a base para a preservação dos demais. No núcleo essencial dos direitos, em uma democracia, está o direito de protestar, de criticar o poder público e privado. Não há democracia sem possibilidade de dissentir e de expressar o dissenso.
Entretanto, o que se tem observado, é que o direito de reunião e liberdade de expressão passam a ter como paradigma o direito criminal. Não é o código penal que deve estar à mão, quando se decide sobre estes direitos, pois este tem como ápice a repressão, a criminalização. O paradigma deve ser o constitucional, sempre, pois o norte é o nível de proteção que os direitos fundamentais exigem e que devem ser priorizados.
O exercício da liberdade de expressão e reunião é imprescindível para tornar visível a cidadania. Ir às ruas e praças, que ressoam um modo de refletir, de ver, de mostrar e compartilhar idéias com os demais cidadãos e com o próprio Estado é gesto que se repete desde a origem da democracia, que não se limita ao sufrágio eleitoral, cujo resultado indica que está circunscrito às maiorias, pois há um déficit visível de representação de interesses dos direitos econômicos e sociais agasalhados pela Constituição.
A democracia exige o comprometimento dos cidadãos e exercer os direitos mencionados é uma forma de participar dos desígnios do Estado e de suas políticas públicas. Nesta hora não deixa de vir à mente a imagem da faixa estendida em 1979, em pleno jogo, pelos Gaviões da Fiel: “Anistia, ampla, geral e irrestrita”, os comícios dos trabalhadores, o gigantesco ato pelas diretas no Anhangabaú, as marchas das mulheres e tantas mais, maiores e menores.
Não precisa pedir para Justiça para se manifestar.
Desdenhar a liberdade de expressão e reunião é asfixiar e por fim matar a democracia, que não terá como subsistir com golpe de cassetes e outros golpes.
Então, Marcha pela liberdade: presente.

Kenarik Boujikian Felippe, juíza de direito em São Paulo, secretaria da Associação Juízes para a Democracia

Analfabetemo-nos

Até que enfim a ignorância ganhou aliados públicos e não envergonha mais. Aliás, a ignorância é a mais universal das categorias do conhecimento.
E não me venham com a desculpa de que a sabedoria popular produz a língua certa. A fala do povo não tem nada com isso. Ela é a mãe das línguas, em todas as terras. Mas o estudo e a preparação culta preservam a língua de falar e escrever no momento de expor a compreensão científica, filosófica e de humanidades. Não se faz ciência ou aprendizado com expressões do boteco ou da esquina.
A língua portuguesa nasce da borra do latim, de um rebotalho perdido da língua culta desaparecida. Uma algaravia, que do Lácio confundia-se com o falar galego da Galícia. Redundância? Não. Poesia.
Em fins do Século Quinze, Gil Vicente, no teatro, dá ao português fisionomia morfológica. No Século seguinte, Camões presenteia a língua do seu falar com a estrutura sintática que praticamente faz nascer o idioma. O que, “mutatis mutandis”, Chaucer fez com o inglês. Essa é a nossa língua. “Quero roçar minha língua na língua de Luiz Vaz de Camões”.
Pois bem. Vivemos o tempo da estupidez culta. No Direito e no Idioma. Toda burrice será coroada em nome da pressa e da ética de miçanga. Com desculpas aos quadrúpedes.
A presunção de inocência que aprendemos nas lições clássicas do Direito Penal, não existe mais. Todo mundo agora é culpado ou suspeito. Só os éticos de miçanga são puros, santos e castos. Numa redoma ou bolha de pulhas éticos. Sem eficácia alguma. Corrupção e criminalidade continuam na cara deles, desafiando a pose jovem da estultice e fanfarra.
Nas Ações que tenho recebido pelo chamado dessa tchurma, a ignorância não é apenas jurídica. Essa gente não estudou português nem o básico do colégio. Estou fazendo uma relação dos absurdos cometidos. Matam Camões e esfolam Gil Vicente.
Vamos todos “nos analfabetar”. E vamos todos “nos desinocentar”. Para que nos atualizemos.
É a fisionomia de um tempo. Onde a mobilidade social não se dá pelo trabalho, mas pela esmola. E a preguiça mental dos dirigentes da Educação, após concluírem que se a Educação não tem jeito, o jeito é investir na deseducação.
Se a saúde não tem jeito, invista-se na doença. Se a segurança não tem jeito, invista-se na delinquência.
E se a Democracia nossa não é lá grande bosta, invista-se na merda exposta para não morar dentro da fossa.
A cara suja do nosso tempo. Tudo se resolve com espaço na mídia. Esse deus invisível e presente, que substitui as crenças de salvação pela venda de lotes no céu.
Salas refrigeradas e linha direta com as redações. Claridade da investigação? “Meu inquérito por um holofote”. O povo e o resultado são detalhes de pouca monta. Você sabe o que é Parcela Autônoma? Té mais.

François Silvestre, in Novo Jornal
“Certas pessoas são cheias de si porque se julgam virtuosas. No entanto, por serem aparentemente mais difíceis de abordar, as tentações que sofrem vêm sempre de fontes até então ignoradas por elas. A verdade, no entanto, é que um demônio mais poderoso conseguiu apossar-se delas quando os demônios menores que carregavam consigo correram a prostrar-se diante do mais forte”.
  Franz Kafka  

sábado, 28 de maio de 2011

Waters of March*


*Águas de Março, do imortal maestro Tom Jobim, na voz da bela Jane Monheit, cantora da nova geração do jazz americano.
“Todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão. A educação do futuro deve enfrentar o problema de dupla face do erro e da ilusão. O maior erro seria subestimar o problema do erro; a maior ilusão seria subestimar o problema da ilusão. O reconhecimento do erro e da ilusão é ainda mais difícil, porque o erro e a ilusão não se reconhecem, em absoluto, como tais”.

  Edgar Morin

Impressionante: “cinemagraphs”, as fotos que contêm movimentos




Vocês se lembram das fotos que se mexiam nos jornais e porta-retratos das histórias de Harry Potter?
Pois bem, a fotógrafa novaiorquina Jamie Beck, com a ajuda do webdesigner Kevin Burg, desenvolveu uma técnica parecida que promete revolucionar revistas e jornais digitais.
Beck animou, sutilmente, pequenos elementos das fotos, em formato GIF, criando respeitadas obras de artes. Suas imagens sobre a Semana de Moda de Nova York são impressionantes. Lindas modelos com os cabelos ao vento, reflexos movendo-se nas janelas, um jornal sendo silenciosamente folheado.
Por serem simples imagens GIF, elas são leves e carregam rapidamente, ao contrário dos vídeos. Batizadas de “Cinemagraphs”, as fotos em movimento tiradas por Beck são apenas uma mostra do que ainda pode ser feito a partir dessa nova técnica.
“Os homens que gostam de administrar acham que é bom para o povo ser tratado como um rebanho de ovelhas, os que gostam do fumo dizem que acalmam os nervos, e os que apreciam o álcool afirmam que aguça o tino. A parcialidade assim criada falsifica o julgamento dos homens em relação aos fatos, de modo muito difícil de evitar”.
Bertrand Russel

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Canção pra não voltar


Não volte pra casa meu amor que aqui é triste
Não volte pro mundo onde você não existe
Não volte mais
Não olhe pra trás
Mas não se esqueça de mim não
Não me lembre que o sol nasce no leste e no oeste morre depois
O que acontece é triste demais
Pra quem não sabe viver pra quem não sabe amar
Não volte pra casa meu amor que a casa é triste
Desde que você partiu aqui nada existe
Então não adianta voltar
Acabou o seu tempo acabou o seu mar acabou seu dia
Acabou, acabou
Não volte pra casa meu amor que aqui é triste
Vá voar com o vento que só lá você existe
Não esqueça que não sei mais nada
Nada de você
Não me espere porque eu não volto logo
Não nade porque eu me afogo
Não voe porque eu caio do ar
Não sei flutuar nas nuvens como você
Você não vai entender
Que eu não sei voar
Eu não sei mais nada

Dó com baixo em dó
Sol com baixo em si
Lá com baixo em lá
Lá com baixo em sol
Fá com baixo em fá
Fá com baixo em fá sustenido
Sol com baixo em sol
Sol com lá bemol
Dó maior com dó
Sol maior com si
Lá menor com lá
Lá menor com sol
Fá com baixo em fá
Fá com baixo em fá sustenido
Sol com baixo em sol
Sol com lá bemol
Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.

Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
E encontrares alguém como que à espera
De ousar bater, medita um pouco. Esse era
Meu emissário e eu e o que comporta
O meu orgulho do que desespera.
Abre a quem não bater à tua porta!

Fernando Pessoa

Mafalda

Tirinha 411
“Alguns juízes são absolutamente incorruptíveis. Ninguém consegue induzi-los a fazer justiça”.

Bertolt Brecht

Para Maria da Graça

Agora, que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.
Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.
A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?"
Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes consequências. Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo. 
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon" Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gato se fosses eu?"
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?" é bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: "A minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance só é o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energeticamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo" Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta a parábola perfeita: Alice tinha diminuido tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. é isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor.
Toda a pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: é feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.

Paulo Mendes Campos
        “Para os que entram nos mesmos rios, correm outras e novas águas. (...) Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”.
Heráclito

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O "mantra" de A banda mais bonita da cidade: Oração


Meu amor essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa
Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois
Cabe até o meu amor
Essa é a última oração pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa
Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe essa oração.

Composição: Leo Fressato