Here Today
De Paul McCartney
Lançamento: Tug of War, 1982
And if I said
I really knew you well
What would your answer be?
If you were here today
Here today
Well knowing you
You’d probably laugh and say
That we were worlds apart
If you were here today
Here today
But as for me
I still remember how it was before
And I am holding back the tears no
more
I love you
What about the time we met?
Well I suppose that you could say
that
We were playing hard to get
Didn’t understand a thing
But we could always sing
What about the night we cried?
Because there wasn’t any reason
left
To keep it all inside
Never understood a word
But you were always there with a
smile
And if I say
I really loved you
And was glad you came along
Then you were here today
For you were in my song
Here today
Uma canção de amor para John,
composta logo após a sua morte. Fiquei me lembrando de coisas sobre
o nosso relacionamento e sobre as milhões de coisas que tínhamos
feito juntos, desde ficar de boa nas salas ou nos quartos de nossas
casas até andar na rua juntos ou pegar carona – longas jornadas
juntos que nada tiveram a ver com os Beatles. Fiquei pensando em tudo
isso no que então era o meu estúdio de gravação em Sussex. Antes
de ser transformado em estúdio, era só uma casinha com um pequeno
cômodo no andar de cima, com assoalho de tábuas de madeira e
paredes nuas, e lá estava eu com o meu violão, então me sentei ali
e comecei a compor.
Tudo começou, como muitas vezes
acontece, com a descoberta de algo legal no violão, nesse caso, um
acorde adorável. Simplesmente encontrei esse acorde e continuei a
partir dele; ele era o cais de onde eu parti com meu barco para
terminar a canção.
Tem um verso que na verdade não é
para ser entendido ao pé da letra: “Well knowing you/ You’d
probably laugh and say/ That we were worlds apart”. Estou me
referindo ao lado mais cínico de John, mas não creio que houvesse
essa distância entre nós.
“But you were always there with a
smile” – isso era bem a cara de John. Se você discutia com
ele, e a coisa ficava um pouco tensa, ele só tirava os óculos e
dizia: “Só sou eu”, e depois recolocava os óculos, como se eles
fizessem parte de uma identidade completamente diferente.
“What about the night we cried?”.
A noite em que choramos foi em Key West, em nossa primeira grande
turnê nos Estados Unidos, quando um furacão estava chegando e
tivemos que cancelar um show em Jacksonville. Tivemos que nos
recolher por uns dias em nosso quartinho de hotel em Key West, nos
embriagamos e choramos porque nos amávamos tanto. Ontem eu estava
conversando com alguém que me contou que, quando ele chorava, seu
pai dizia: “Meninos não choram. Não faça isso”. Meu pai não
era assim, mas em geral a atitude era: pessoas do sexo masculino não
choram. Acho que hoje se reconhece que isso é uma coisa
perfeitamente normal, e eu costumo dizer: “Deus não nos daria
lágrimas se não fosse para chorarmos”.
Recentemente, ouvi em algum lugar:
“Por que os homens não podem dizer ‘eu te amo’ um ao outro?”.
Hoje isso não é tão verdadeiro quanto nas décadas de 1950 e 1960,
mas certamente quando estávamos crescendo você tinha que ser gay
para dizer isso a outro homem, então essa postura bitolada gerou um
pouco de sarcasmo. Se você falasse algo piegas, alguém tinha que
caçoar disso, nem que fosse para amenizar o constrangimento na sala.
Mas a saudade pulsa nos versos: “If you were here today” e
“I am holding back the tears no more”, porque foi muito
emocionante compor esta canção. Ali estava eu, sentado naquela sala
vazia, pensando em John e percebendo que eu o havia perdido. E foi
uma perda poderosa, então ter uma conversa com ele numa canção foi
uma forma de consolo. De certa forma, eu estava com ele de novo. “And
if I say/ I really loved you” – pronto, agora está dito.
Coisa que eu nunca teria falado para ele.
É uma experiência muito intensa
tocar esta canção num show. Só violão e voz. No show atual, eu
faço “Blackbird” e depois “Here Today”, e estou lá no meio
de uma grande arena com todas essas pessoas, e muitas delas estão
chorando. É sempre um momento muito emotivo, nostálgico e tocante.
Paul McCartney, em As Letras: 1956 até o presente

Nenhum comentário:
Postar um comentário