sábado, 22 de novembro de 2025

1599 – Rio Chagres

Não falam os sábios

Este é o caminho mais brilhante do mundo. De mar a mar serpenteia o longo fio de prata. Infinitas fileiras de mulas esmagadas pelo peso dos metais de Potosí, atravessam a selva rumo aos galeões que esperam em Portobelo.
Os micos acompanham a rota da prata voando de galho em galho através do Panamá. Gritando sem trégua, caçoam dos arrieiros e disparam goiabas.
Nas margens do rio Chagres, frei Diego de Ocaña os está admirando. Para atravessar o rio, os micos formam uma corrente da copa de uma árvore, agarrando-se uns a outros pelos rabos: a corrente balança e toma impulso até que um empurrão forte a atira até os galhos mais altos da outra margem.
O índio peruano que carrega a bagagem de Ocaña se aproxima e comenta:
Padre, esses são gente. Não falam para que os espanhóis não percebam. Se veem que são gente, os mandam trabalhar nas minas.

Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

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