Não falam os sábios
Este é o caminho mais brilhante do
mundo. De mar a mar serpenteia o longo fio de prata. Infinitas
fileiras de mulas esmagadas pelo peso dos metais de Potosí,
atravessam a selva rumo aos galeões que esperam em Portobelo.
Os micos acompanham a rota da prata
voando de galho em galho através do Panamá. Gritando sem trégua,
caçoam dos arrieiros e disparam goiabas.
Nas margens do rio Chagres, frei Diego
de Ocaña os está admirando. Para atravessar o rio, os micos formam
uma corrente da copa de uma árvore, agarrando-se uns a outros pelos
rabos: a corrente balança e toma impulso até que um empurrão forte
a atira até os galhos mais altos da outra margem.
O índio peruano que carrega a bagagem
de Ocaña se aproxima e comenta:
– Padre, esses são gente. Não
falam para que os espanhóis não percebam. Se veem que são gente,
os mandam trabalhar nas minas.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
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