quarta-feira, 26 de novembro de 2025

1599 – La Imperial

As flechas flamejantes

A rebelião estala na costa do Pacífico e os trovões sacodem a cordilheira dos Andes.
Martín García Oñez e de Loyola, sobrinho de Santo Ignácio, tinha vindo do Peru com fama de caçador incansável e certeiro matador. Lá tinha capturado Túpac Amarú, o último dos Incas. O mandaram como governador ao Chile para que amansasse os araucanos. Aqui, matou índios, roubou ovelhas e queimou sementeiras sem deixar um grão. Agora os araucanos passeiam sua cabeça na ponta de uma lança.
Os índios chamam para a luta soprando ossos de cristãos como se fossem trombetas. Máscaras de guerra, couraças de couro: a cavalaria araucana arrasa o sul. Sete povoados se desmoronam, um depois do outro, sob a chuva de flechas de fogo. A presa se faz caçador. Os araucanos sitiam La Imperial. Pra deixá-la sem água, desviam o curso do rio.
Meio reino do Chile, todo o sul do Bío-Bío, volta a ser araucano.
Os índios dizem, apontando a lança: Este é meu amo. Este não me manda tirar ouro para ele, nem que traga ervas ou lenhas, nem que guarde seu gado, nem que plante e colha para ele. Com este amo quero andar.

Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

Nenhum comentário:

Postar um comentário