As flechas flamejantes
A rebelião estala na costa do
Pacífico e os trovões sacodem a cordilheira dos Andes.
Martín García Oñez e de Loyola,
sobrinho de Santo Ignácio, tinha vindo do Peru com fama de caçador
incansável e certeiro matador. Lá tinha capturado Túpac Amarú, o
último dos Incas. O mandaram como governador ao Chile para que
amansasse os araucanos. Aqui, matou índios, roubou ovelhas e queimou
sementeiras sem deixar um grão. Agora os araucanos passeiam sua
cabeça na ponta de uma lança.
Os índios chamam para a luta soprando
ossos de cristãos como se fossem trombetas. Máscaras de guerra,
couraças de couro: a cavalaria araucana arrasa o sul. Sete povoados
se desmoronam, um depois do outro, sob a chuva de flechas de fogo. A
presa se faz caçador. Os araucanos sitiam La Imperial. Pra deixá-la
sem água, desviam o curso do rio.
Meio reino do Chile, todo o sul do
Bío-Bío, volta a ser araucano.
Os índios dizem, apontando a lança:
Este é meu amo. Este não me manda tirar ouro para ele, nem que
traga ervas ou lenhas, nem que guarde seu gado, nem que plante e
colha para ele. Com este amo quero andar.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
Nenhum comentário:
Postar um comentário