Minha mãe me dava o peito e eu
escutava,
o ouvido colado à fonte dos seus
suspiros:
‘Ô meu Deus, meu Jesus,
misericórdia’.
Comia leite e culpa de estar alegre
quando fico.
Se ficasse na roça ia ser carpideira,
puxadeira de terço,
cantadeira, o que na vida é beleza
sem esfuziamentos,
as tristezas maravilhosas.
Mas eu vim pra cidade fazer versos tão
tristes
que dão gosto, meu Jesus
misericórdia.
Por prazer da tristeza eu vivo alegre.
Adélia Prado, em Bagagem
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