Got to Get You Into My Life
De Paul McCartney e John Lennon
Lançamento: Revolver, 1966
I was alone, I took a ride
I didn’t know what I would find
there
Another road where maybe I
Could see another kind of mind
there
Ooh then I suddenly see you
Ooh did I tell you I need you
Every single day of my life?
You didn’t run, you didn’t lie
You knew I wanted just to hold you
And had you gone, you knew in time
We’d meet again, for I had told
you
Ooh you were meant to be near me
Ooh and I want you to hear me
Say we’ll be together every day
Got to get you into my life
What can I do, what can I be?
When I’m with you I want to stay
there
If I am true, I’ll never leave
And if I do, I know the way there
Ooh then I suddenly see you
Ooh did I tell you I need you
Every single day of my life?
Got to get you into my life
O que acabou entrando em nossas vidas,
ao que parece, foi a Cannabis. Até sermos apresentados à
maconha, apenas bebíamos socialmente. Fomos conhecer a erva quando
estávamos nos Estados Unidos, e ela pirou nossas cabecinhas.
Já falei nisso antes, mas aconteceu o
seguinte, para ser mais exato: estávamos na suíte de um hotel,
talvez em Nova York, no verão de 1964, e Bob Dylan apareceu com seu
roadie, o tipo do cara que era mais que um roadie – assistente e
amigo. Ele tinha acabado de lançar Another Side of Bob Dylan.
A gente estava ali só bebendo, como sempre, dando uma festinha.
Pedimos umas bebidas pelo serviço de quarto – uísque, Coca-Cola e
vinho francês eram nossas preferências na época –, e Bob tinha
escapulido para o quartinho dos fundos. Pensamos que ele tinha ido ao
banheiro, mas daí Ringo saiu daquele quartinho parecendo um pouco
estranho. Ele disse: “Estive com o Bob ali dentro. Ele tem uma
erva”, ou sei lá como chamavam na época. E perguntamos: “Mesmo?
E que tal é?”. Ele falou: “Bem, o teto está se mexendo, parece
que vai cair”. E não precisou mais do que isso.
Depois que o Ringo nos avisou, nós
três pulamos no quartinho dos fundos, onde Dylan estava, e ele nos
deixou tragar o baseado. E sabe que muita gente dá uma tragada e
pensa que não está funcionando? Esperávamos algo instantâneo,
então continuamos fumando e dizendo: “Não está funcionando,
está?”. E súbito começou a funcionar. Um começou a rir da cara
do outro. Eu lembro que George tentou fugir, e eu meio que saí
correndo atrás dele. Foi hilariante, tipo uma perseguição de
desenho animado. Pensamos: “Uau, esse negócio é incrível”. E a
partir daí passou a fazer parte de nosso repertório. Como
conseguíamos a nossa maconha? Para falar a verdade, ela simplesmente
aparecia. Tinha um pessoal com quem você podia obter. Você só
precisava saber quem tinha o produto.
Em suma, esta canção é a minha ode
à maconha. Foi algo que entrou em nossas vidas, e achei que seria
uma boa ideia escrever uma canção com a frase “Got to get you
into my life”, e só eu saberia que eu estava falando sobre o
dia em que a maconha entrou na minha vida. Muitos anos depois, contei
às pessoas do que se tratava, mas quando gravamos o álbum era
apenas: “I was alone, I took a ride/ I didn’t know what I
would find there”. Na época foi um júbilo. A coisa ficou
sombria uns anos depois, como acontece com essa coisa das drogas, mas
começou como uma experiência do tipo um “dia-ensolarado-no-jardim”.
“Got to Get You Into My Life”
entrou no disco Revolver, e foi uma grande diversão
experimentar diferentes instrumentos nos arranjos. No começo do
disco, temos “Eleanor Rigby”, com violinos, viola e violoncelos.
George toca cítara em “Love You To”. Nesta aqui temos o naipe de
metais. Eu andava ouvindo muito soul e R&B americano, e havia
seções de sopro nesses discos – Joe Tex, Wilson Pickett, Sam &
Dave, esse pessoal. Isso foi um impulso suficiente para eu pensar:
“Vou tentar”. Em geral, comigo é assim que as coisas acontecem.
Escuto algo no rádio e penso: “Uau, vou fazer a minha variante
disso”. Então colocamos uma seção de metais – com trompetes e
saxofones, acho eu – no Abbey Road Studio 2, e expliquei a eles
como eu queria, e eles logo entenderam.
Cliff Bennett and The Rebel Rousers
também gravaram esta canção. Normalmente, escrevíamos a canção,
gravávamos com os Beatles e depois decidíamos se ela seria ou não
um single. Se escrevêssemos outra canção ainda melhor, esta é que
se tornava o single, e a outra ficava para o lado B. Caso contrário,
ela se tornava uma faixa do álbum. E, às vezes, o pessoal indagava:
“Ei, tem uma canção para nós, cara?”. O produtor ou o
empresário deles talvez aconselhassem: “Esta é uma boa canção
dos Beatles, e eles não vão lançá-la. Vocês devem fazer isso
como um single”.
Nós já conhecíamos o Cliff Bennett.
Fomos apresentados anos antes, em Hamburgo. Nós o admirávamos; ele
nos admirava. Ele foi uma das primeiras pessoas a sacar o segredo da
canção “If You Gotta Make a Fool of Somebody”, transformada em
cover por Freddie and The Dreamers: “Uau, essa é a primeira canção
de rock’n’roll que eu já ouvi no compasso 3/4”. Perceber algo
assim foi muito engenhoso da parte dele. Ele era um bom cantor e
amigo. Ele pediu para fazer uma cover de “Got to Get You Into My
Life”, então eu a produzi para ele.
É interessante trabalhar com outro
artista gravando uma de minhas canções, pois isso suscita um
questionamento de como ela deve soar. A dele deveria ser exatamente
igual à nossa, ou as coisas deveriam ser um pouquinho modificadas?
Algumas canções têm mais espaço para respirar do que outras, e
surge a questão de se vale a pena ou não improvisar numa canção
assim. Se o seu objetivo ao fazer um show é agradar as pessoas, é
melhor não alterar o andamento da canção. Alguém pode dizer:
“Devíamos fazer isso mais rápido” ou “É melhor fazer mais
devagar”, e uma ou duas vezes isso até pode funcionar.
Esses dias, eu li que Bob Dylan acha
que interpreta as canções dele quase como elas soam em seus discos,
mas eu não concordo. Fomos a um de seus shows recentemente e, às
vezes, era difícil reconhecer as canções. E citaram no New York
Times uma frase em que ele afirmava que não fazia improvisos.
Dei muita risada quando li isso. Fazia um bom tempo que eu não lia
algo tão engraçado. É um sujeito excelente, mas você simplesmente
não sabe quando ele está sendo irônico.
Paul McCartney, em As Letras – 1956 até o presente

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