Bar da Maria, tarde I d.C. (depois da
Copa). Ligeira depressão, aliviada pelas cervejinhas. Feito esses
lenços que mágico vagabundo tira da cartola, uma historinha de
casamento em crise puxava outra. Baiano resumiu o clima:
– A dimensão da crise num casamento
pode ser medida pela resposta que seu Ernesto deu pra cara-metade.
Môa suspirou:
– De novo ?
Entende-se a falta de saco do Môa. É
a pentelhésima vez que o Baiano conta esse troço, uma espécie de
carro-chefe dele. Mas vale a pena ver de novo. A mulher do seu
Ernesto fez uma sopa e perguntou ao marido, sujeito extremamente
malhumorado, se ele queria um pouco. Recebeu como resposta um
resmungo de assentimento. Na ânsia de agradar a pobrezinha fez a
pergunta fatal : “Quer no prato?”.
Seu Ernesto virou a boca de bazuca na
direção da infeliz e não perdoou:
– Não. Quero no prato não. Joga no
chão e vem varrendo.
Rimos pra não perder o amigo. Mas a
história teve um efeito colateral. O Cascudo, um rapaz mineiro que
só toma/a genebra e jamais abria a boca pra falar de si mesmo, fitou
o pôster do Vasco e desfiou o seu drama, de mansinho:
– Minha senhora vivia reclamando que
a vida andava sem graça. Chorava pelos canto. Tinha uma dor de
cabeça braba. Eu não sabia o que fazer. Ela descascava as batata
gemeno de dar dó. Me olhava com os óio cheio de lágrima e dizia
que nossa vidinha no dia-a-dia estava isfriando a paxão, arruinando
o romantismo dos tempo de namoro. Quando o Brasil perdeu pra
Argentina resolvi virar a mesa.Tomei uma canjibrina extra aqui na
Maria, e fui pra casa antis da hora bitual. Miti a chave na fechadura
e girei bem divagá.
Entrei em casa na pontinha dos pé.
Ela tava no quarto, sentada na cama só com a parte de cima do
beibidor, mexendo na caixa de custura. Aquele misto de trem doméstico
e nudez buliu comigo, atiçou meus brio. Olhei os cabelo dela
começano a ficar grisáio, as coxa mais grossa por causa de um
aumentim de peso, os óculo meia-taça inquilibrado na ponta do
nariz... Fiquei doidim. Ela sentiu minha presença, se assustou,
começou a se levantar, mas eu dei um impurrão nos peito dela,
joguei ela na cama, rasguei de cima baixo a brusa de um puxão só e
pulei em cima dela que nem um gato. Ela gritou com uma voz que eu não
cunhecia, uma coisa forte, doida. Tentou falar arguma coisa, mas eu
tapei a boca dela anssim ó cum u travissêro e mandei ferro. Me
senti um deus grego. Quanto mais ela tentava se sortá, mais eu
abafava a cara dela gritano:
– É isso que tu queria? Tá
gostano? É por causa da minha vara macha que tu tá rebolano
des’jeito, é?
E refresquei um pouco a pressão no
travesseiro pra ouvir a resposta dela. Uma voz de gelo me disse:
– Tô rebolano des’jeito porque
tem alfinete demais da conta ispetado na minha bunda, só!
Aldir Blanc, em Brasil passado a sujo

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