IV
Tenciono dizer pouco a respeito da vida de Benjamin Button entre os seus doze e os seus vinte e um anos. Basta registrar que foram anos de normal não-crescimento. Quando tinha dezoito anos Benjamin andava ereto como um homem de cinquenta, tinha mais cabelo e de um tom cinzento-escuro, os seus passos eram firmes e a sua voz perdera o tom de cana rachada e descera para um barítono saudável.
Por isso, o pai mandou-o para o Connecticut a fim de fazer exames de admissão no Yale College. Benjamin foi aprovado nos exames e tornou-se membro da turma dos calouros.
No terceiro dia após a matrícula recebeu uma notificação de Mr. Hart, o escrivão da faculdade, para se apresentar no seu gabinete a fim de elaborar o seu horário. Benjamin olhou para o espelho e achou que o seu cabelo precisava de uma nova aplicação de tinta castanha, mas uma procura ansiosa na gaveta da escrivaninha revelou que o frasco da tinta para o cabelo não se encontrava lá. Lembrou-se, então: gastara o resto no dia anterior e jogara o frasco fora.
Encontrava-se perante um dilema. Tinha que comparecer no gabinete do escrivão dali a cinco minutos. A isso não podia esquivar-se: tinha que ir tal qual se encontrava. E foi.
— Bom dia — disse o escrivão cortesmente.
— Vem informar-se a respeito do seu filho.
— Bem, na verdade, chamo-me Button. — começou Benjamin, mas Mr. Hart não o deixou acabar. — Tenho muito prazer em conhecê-lo, Mr. Button. Estou à espera do seu filho, de um momento para o outro.
— Sou eu! — explodiu Benjamin. — Sou um calouro.
— O quê?!
— Sou um calouro.
— Está, com certeza, brincando.
— De modo algum.
O escrivão franziu a testa e olhou para um cartão que tinha à sua frente.
— Como é possível, se Mr. Benjamin Button está aqui registrado como tendo dezoito anos?
— É essa a minha idade — afirmou Benjamin, corando ligeiramente.
O escrivão olhou-o, enfadado.
— Não espera, certamente, que eu acredite nisso, Mr. Button.
Benjamin sorriu, cansado.
— Tenho dezoito anos — repetiu.
O escrivão apontou, carrancudo, para a porta.
— Saia! — ordenou. — Saia da universidade e saia da cidade. É um louco perigoso.
— Tenho dezoito anos.
Mr. Hart abriu a porta.
— O atrevimento! — gritou. — Um homem da sua idade tentando entrar aqui como calouro.
Com que então, dezoito anos? Pois bem, dou-lhe dezoito minutos para sair da cidade.
Benjamin Button saiu do gabinete com dignidade e meia dúzia de estudantes que esperavam no átrio seguiram-no curiosamente com o olhar.
Quando se afastara um pouco, Benjamin voltou-se, encarou o enraivecido escrivão, que continuava parado à entrada da porta, e repetiu, com voz firme:
— Tenho dezoito anos.
Alastrou pela universidade uma sanha de agitação. Homens descabelados saíam correndo das salas de aula, a equipe de futebol abandonou o treino e juntou-se à turba, as mulheres dos professores, com chapéus de lado e anquinhas fora do lugar, corriam aos gritos atrás do cortejo, do qual emanava uma sucessão contínua de comentários que tinham como alvo as delicadas susceptibilidades de Benjamin Button.
— Deve ser o Judeu Errante!
— Devia ir para a escola primária, com a sua idade! — Olhem para o menino-prodígio!
— Achava que isto era o lar dos velhos!
— Vai para Harvard!
Benjamin estugou o passo e, pouco depois, começou a correr. Iria para Harvard e, então, eles se arrependeriam dos seus agressivos sarcasmos!
Seguro dentro do trem para Baltimore, pôs a cabeça fora da janela e gritou:
— Vão se arrepender-se disso!
— Ah! Ah! Ah! — riram-se os estudantes.
— Ah! Ah! Ah!
Foi o maior erro que o Yale College jamais cometeu.
F. Scott Fitzgerald, em O
Estranho Caso de Benjamin Button
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