segunda-feira, 11 de novembro de 2024

[Para Carol Ely Harper] | 13 de novembro de 1956




Os poemas que a senhora mencionou ainda estão disponíveis – não tenho carbonos, por isso não me lembro dos poemas completamente, mas me causa particular satisfação que a senhora tenha aceitado “A Note to Carl Sandburg”*. Esse é um poema que escrevi sobretudo para mim mesmo, pensando que ninguém jamais teria coragem de publicá-lo.
Tenho 36 anos de idade (16-8-20) e fui publicado pela primeira vez (um conto) na revista Story, de Whit Burnett, lá em 1944. Depois alguns contos e poemas em 3 ou 4 edições da Matrix por volta da mesma época, e um conto na Portfolio. Como a senhora sabe, essas revistas já faleceram. Ah sim, também um conto e um par de poemas em algo chamado Write, que saiu uma ou duas vezes e aí desistiu. Depois, por 7 ou 8 anos, escrevi pouco, muito pouco. Foi uma bebedeira e tanto. Fui parar na ala de caridade do hospital com buracos na barriga, esguichando sangue que nem uma cachoeira. Tomei uma transfusão de 3 litros – e sobrevivi. Não sou o mesmo homem de antes, mas estou escrevendo de novo.
Recebi um bilhete ontem da Espanha, da sra. Hills, informando-me que um de meus poemas foi aceito para a Quixote. E deverei ter alguns contos e poemas aparecendo na próxima edição da Harlequin, uma nova revista que lançou seu primeiro número no Texas e agora se mudou para L.A. Eles me convidaram para ingressar na equipe editorial, coisa que eu fiz. E é uma experiência e tanto; e o que aprendi foi isto: que existem tantos, tantos escritores escrevendo que não sabem escrever em absoluto, e eles continuam escrevendo na boa todos os clichês e temas batidos, e enredos de 1890, e poemas sobre Primavera e poemas sobre Amor, e poemas que eles acham que são modernos porque são compostos em gíria ou estilo staccato, ou escritos com os “is” pequenos, ou, ou, ou!!!... Veja bem, não posso ingressar no Experiment Group, mas é uma honra para mim que a senhora tenha me convidado a entrar. Simplesmente – como a senhora deve saber, devido ao seu próprio colapso nervoso – não há tempo suficiente – eu tenho meu trivial e cansativo emprego de 44 horas por semana e salário baixo, e frequento escola noturna 4 noites por semana, duas horas por noite, mais uma ou duas horas adicionais de dever de casa. Estou cursando Arte Comercial pelos próximos dois anos, se eu persistir (esse é o esquema da escola noturna), e além disso acabei de começar meu primeiro romance, A Place to Sleep the Night. Estou sendo muito prolixo em lhe contar tudo isso, então se eu não lhe mandar algumas peças de um minuto a senhora saberá por quê. De qualquer maneira, se eu bem me conheço, a senhora vai receber tentativas minhas. Não creio, porém, que a forma teatral mexa comigo como deveria. Veremos.

Nota:
*O poema “A Note to Carl Sandburg” jamais foi publicado; A Place to Sleep the Nightfoi abandonado depois que a Doubleday rejeitou alguns capítulos.

Charles Baudelaire, em Escrever para não enlouquecer

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