A
prata de Potosí
Cinquenta
índios caídos por terem-se negado a servir nos túneis da mina. Não
faz um ano que apareceu o primeiro veio e já se mancharam de sangue
humano as ladeiras do morro. E a uma légua daqui, os penhascos da
quebrada mostram manchas de um verde quase negro: sangue do Diabo. O
Diabo tinha fechado a pau e pedra a quebrada que conduz a Cuzco e
esmagado os espanhóis que passavam por ali. Um arcanjo arrancou o
Demônio de sua cova e despedaçou-o contra as rochas. Sangue de
índio, sangue de Diabo: agora, as minas de prata de Potosí têm mão
de obra e caminho aberto.
Antes
da conquista, em tempos do Inca Huaina Cápac, quando o pico de pedra
afundou nas veias de prata do morro, houve um espantoso estrondo que
estremeceu o mundo. Então, a voz do morro disse aos índios:
– Outros
donos tem esta riqueza.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
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