Aquele
amarelo que apareceu um dia em nossa terra, ou por outra, aquele
japonês, pois não sei se um chim daria o mesmo desfecho ao caso,
dedicava-se a trabalhos de papel. Com incrível celeridade, dobrava,
redobrava, multidobrava, premia aqui, puxava dali, e pronto: saía um
pato, uma cesta, um avião, um urso, um homem sentado, uma mulher
dançando, um navio, todas as coisas que há no mundo. Algumas dessas
habilidades, ele as fazia às vezes em câmara lenta, para que a
gente pudesse aprender. Mas era impossível guardar de memória o
segredo do sapo verde, o maravilhoso sapo verde que comportava nada
menos de sessenta e quatro dobras e que dava um salto quando lhe
tocavam no lombo. Comprei um e fui para casa desmanchá-lo. Ficou-me
nas mãos um quadrado de papel, inextrincavelmente entrecruzado de
vincos. Como não consegui fazer a operação contrária, isto é,
rearmar o sapo, dali a dias encomendei outro.
— Hoje
não poder — disse ele.
— Por
quê?
— Por
acabar papel verde.
— E
por que não faz um sapo branco?... ou um sapo azul... ou um sapo
vermelho... ou...
Mas
o seu quase imperceptível sorriso de comiseração cortou-me a linda
sequência colorida.
Mário Quintana, em Sapato Florido
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